Damian Carrington (The Guardian) | Traduzido
por Maria Luiza Santos
Imagem ilustrativa: Pixabay
O mundo está na ‘era das
pandemias’ e a não ser que a destruição do mundo natural seja detida, os surtos
surgirão com mais frequência, se espalharão mais rápido, matarão mais pessoas e
afetará a economia global de uma forma devastadora nunca vista anteriormente,
diz um relatório feito por alguns dos melhores cientistas do mundo.
O surgimento de doenças como a
Covid-19, a gripe aviária e o HIV que emergiram de animais, foi totalmente
conduzido pela devastação de lugares selvagens para virar pasto e pela venda de
animais selvagens, que levaram as pessoas a terem contato com perigosos
micróbios, disse o especialista.
“O risco de pandemia tem crescido
rapidamente, com mais de cinco novas doenças surgindo nas pessoas todos os anos
e qualquer uma delas tem o potencial de se tornar uma pandemia”, diz o
relatório.
O estudo estima que existam mais
de 500.000 vírus desconhecidos em mamíferos e pássaros que podem infectar
humanos.
A atual abordagem quanto ao surto
de doenças tem tentado contê-las e desenvolver tratamentos, o que os cientistas
dizem ser “uma caminho longo e incerto”. Ao contrário disso, as principais
causas podem ser rastreadas, e inclui com o fim da devastação para a produção
de carne, óleos, metais e outras commodities para países mais ricos.
Os custos de uma mudança tão
transformadora pode ser “trivial”, dizem os especialistas, comparado aos
trilhões de dólares em danos causado apenas pela pandemia do coronavírus. As
soluções que eles propõem incluem um trabalho de uma rede global de vigilância,
taxando a produção de carne que causa dados e acabando com subsídios fiscais
que destrói o mundo natural.
“Não é nenhum mistério a causa da
pandemia da Covid-19, ou de nenhuma outra pandemia moderna”, diz Peter Daszak,
líder do grupo criado pela Intergovernmental Science-Policy Platform on
Biodiversity and Ecossystem Services (Ipbes) que produziu o relatório. “As
mesmas atividades humanas que nos levaram a mudança climática e a perda de
biodiversidade também nos levou ao risco da pandemia através dos seus impactos
no nosso meio ambiente”.
“Nós vemos pandemias a cada 20-30
anos”, diz Daszak, que também é presidente da EcoHealth Alliance, e elas tem
ficado mais frequentes e danosas. “Nós podemos escapar da era das pandemias,
mas isso requer muito mais foco na prevenção ao invés da reação.”
Desde o inicio da pandemia do
coronavírus, as Nações Unidas, a Organização Mundial da Saúde e outros órgãos
já alertaram que o mundo deve atacar a causa desses surtos e não apenas os
sintomas econômicos e na saúde. Em junho, especialistas chamaram a pandemia de
um “sinal de SOS vindo da nave da humanidade”, mas muita pouca ação foi tomada
por parte do governo.
O relatório foi produzido por 22
especialistas de áreas que incluem zoologia, saúde pública, economia, direito e
teve representantes de todos os continentes. Ele cita mais de 600 estudos,
dentre os quais um terço foram publicados a partir de 2019. “Isso realmente
marca a arte em termos de ciências”, disse Anne Larigauderie, secretária
executiva do Ipbes.
O relatório diz que o crescimento
na aparição de doenças é liderado pelo “recente crescimento exponencial no
consumo e comércio, levado pela demanda em países em desenvolvimento e
economias emergentes, assim também como pela pressão [do aumento da
população]”.
Daszak acrescenta: “Claramente,
em face à Covid-19, com mais de um milhão de mortes humanas e enormes impactos
para a economia, [a atual] abordagem reativa é inadequada. Há ciência
suficiente mostrando um caminho para a frente e pode envolver mudanças
transformadoras que repensam a nossa relação com a natureza”.
Os cientistas clamam por um alto
conselho intergovernamental de prevenção a pandemia para prover os tomadores de
decisão com as melhores evidências, prevendo áreas de alto risco e coordenando
o desenho de um sistema global de vigilância sobre as doenças.
Espécies de alto risco, como
morcegos, roedores, primatas e pássaros aquáticos devem ser exterminados do
comércio ilegal de animais selvagens, eles dizem, e deverá haver um desmonte
nesse comércio ilegal.
Eles também disseram que o risco
causado pelas doenças emergentes deve ser fatorados em decisões com maior
desenvolvimento e pedem que a produção de carne seja taxada. “O consumo de
carne tem crescido drasticamente e está claramente associado as pandemias”,
disse Daszak.
“Muitas dessas políticas são
custosas e difíceis de serem executadas”, diz o relatório. “Entretanto,
analises econômicas sugerem que o custo [cerca de US$50 bilhões por ano] será
trivial em comparação aos trilhões de dólares em impactos devido a COVID-19,
sem falar da crescente onda de doenças futuras.”
Daszak disse: “Para cada política
existem estudos que mostram como elas trabalham – eles só precisam ser
escaladas e levadas a sério. Isso é saúde pública básica – uma onça em
prevenção equivale a uma libra em cura.”
O relatório foi muitíssimo bem
recebido por outras especialistas. Guy Poppy, professor de ecologia na
Universidade de Southampton, disse que a análise compreensiva desse relatório é
valiosa. “A ligação entre saúde planetária e saúde humana já vinha sendo
reconhecida, mas a Covid-19 trouxe a atenção de todos para isso”, ele disse.
O professor John Spicer,
zoologista marinho na Universidade de Playmouth, disse: “A crise da COVID-19
não é só mais uma crise caminhando ao lado da crise da biodiversidade e da
crise da mudança climática. Não se deixe enganar, essa é uma crise das grandes
– uma das maiores que a humanidade jamais enfrentou”.
Mas ele diz que, ao sugerir
soluções, o relatório é “um documento de esperança, não de desespero…a questão
não é se podemos [agir], mas se vamos?”.
Fonte: anda.jor.br
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