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segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Proteger a natureza é a única forma de evitar novas pandemias

 

Damian Carrington (The Guardian) | Traduzido por Maria Luiza Santos


Imagem ilustrativa: Pixabay

O mundo está na ‘era das pandemias’ e a não ser que a destruição do mundo natural seja detida, os surtos surgirão com mais frequência, se espalharão mais rápido, matarão mais pessoas e afetará a economia global de uma forma devastadora nunca vista anteriormente, diz um relatório feito por alguns dos melhores cientistas do mundo.

O surgimento de doenças como a Covid-19, a gripe aviária e o HIV que emergiram de animais, foi totalmente conduzido pela devastação de lugares selvagens para virar pasto e pela venda de animais selvagens, que levaram as pessoas a terem contato com perigosos micróbios, disse o especialista.

“O risco de pandemia tem crescido rapidamente, com mais de cinco novas doenças surgindo nas pessoas todos os anos e qualquer uma delas tem o potencial de se tornar uma pandemia”, diz o relatório.

O estudo estima que existam mais de 500.000 vírus desconhecidos em mamíferos e pássaros que podem infectar humanos.

A atual abordagem quanto ao surto de doenças tem tentado contê-las e desenvolver tratamentos, o que os cientistas dizem ser “uma caminho longo e incerto”. Ao contrário disso, as principais causas podem ser rastreadas, e inclui com o fim da devastação para a produção de carne, óleos, metais e outras commodities para países mais ricos.

Os custos de uma mudança tão transformadora pode ser “trivial”, dizem os especialistas, comparado aos trilhões de dólares em danos causado apenas pela pandemia do coronavírus. As soluções que eles propõem incluem um trabalho de uma rede global de vigilância, taxando a produção de carne que causa dados e acabando com subsídios fiscais que destrói o mundo natural.

“Não é nenhum mistério a causa da pandemia da Covid-19, ou de nenhuma outra pandemia moderna”, diz Peter Daszak, líder do grupo criado pela Intergovernmental Science-Policy Platform on Biodiversity and Ecossystem Services (Ipbes) que produziu o relatório. “As mesmas atividades humanas que nos levaram a mudança climática e a perda de biodiversidade também nos levou ao risco da pandemia através dos seus impactos no nosso meio ambiente”.

“Nós vemos pandemias a cada 20-30 anos”, diz Daszak, que também é presidente da EcoHealth Alliance, e elas tem ficado mais frequentes e danosas. “Nós podemos escapar da era das pandemias, mas isso requer muito mais foco na prevenção ao invés da reação.”

Desde o inicio da pandemia do coronavírus, as Nações Unidas, a Organização Mundial da Saúde e outros órgãos já alertaram que o mundo deve atacar a causa desses surtos e não apenas os sintomas econômicos e na saúde. Em junho, especialistas chamaram a pandemia de um “sinal de SOS vindo da nave da humanidade”, mas muita pouca ação foi tomada por parte do governo.

O relatório foi produzido por 22 especialistas de áreas que incluem zoologia, saúde pública, economia, direito e teve representantes de todos os continentes. Ele cita mais de 600 estudos, dentre os quais um terço foram publicados a partir de 2019. “Isso realmente marca a arte em termos de ciências”, disse Anne Larigauderie, secretária executiva do Ipbes.

O relatório diz que o crescimento na aparição de doenças é liderado pelo “recente crescimento exponencial no consumo e comércio, levado pela demanda em países em desenvolvimento e economias emergentes, assim também como pela pressão [do aumento da população]”.

Daszak acrescenta: “Claramente, em face à Covid-19, com mais de um milhão de mortes humanas e enormes impactos para a economia, [a atual] abordagem reativa é inadequada. Há ciência suficiente mostrando um caminho para a frente e pode envolver mudanças transformadoras que repensam a nossa relação com a natureza”.

Os cientistas clamam por um alto conselho intergovernamental de prevenção a pandemia para prover os tomadores de decisão com as melhores evidências, prevendo áreas de alto risco e coordenando o desenho de um sistema global de vigilância sobre as doenças.

Espécies de alto risco, como morcegos, roedores, primatas e pássaros aquáticos devem ser exterminados do comércio ilegal de animais selvagens, eles dizem, e deverá haver um desmonte nesse comércio ilegal.

Eles também disseram que o risco causado pelas doenças emergentes deve ser fatorados em decisões com maior desenvolvimento e pedem que a produção de carne seja taxada. “O consumo de carne tem crescido drasticamente e está claramente associado as pandemias”, disse Daszak.

“Muitas dessas políticas são custosas e difíceis de serem executadas”, diz o relatório. “Entretanto, analises econômicas sugerem que o custo [cerca de US$50 bilhões por ano] será trivial em comparação aos trilhões de dólares em impactos devido a COVID-19, sem falar da crescente onda de doenças futuras.”

Daszak disse: “Para cada política existem estudos que mostram como elas trabalham – eles só precisam ser escaladas e levadas a sério. Isso é saúde pública básica – uma onça em prevenção equivale a uma libra em cura.”

O relatório foi muitíssimo bem recebido por outras especialistas. Guy Poppy, professor de ecologia na Universidade de Southampton, disse que a análise compreensiva desse relatório é valiosa. “A ligação entre saúde planetária e saúde humana já vinha sendo reconhecida, mas a Covid-19 trouxe a atenção de todos para isso”, ele disse.

O professor John Spicer, zoologista marinho na Universidade de Playmouth, disse: “A crise da COVID-19 não é só mais uma crise caminhando ao lado da crise da biodiversidade e da crise da mudança climática. Não se deixe enganar, essa é uma crise das grandes – uma das maiores que a humanidade jamais enfrentou”.

Mas ele diz que, ao sugerir soluções, o relatório é “um documento de esperança, não de desespero…a questão não é se podemos [agir], mas se vamos?”.

Fonte: anda.jor.br



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