O ano pode até ser novo, mas o sofrimento é o mesmo. Com a
tradicional queima de fogos do Réveillon, muitos cães vivem uma verdadeira
tortura e as famílias rapidamente veem o que deveria ser um momento agradável
se transformar em transtorno. Desta vez, não foi
diferente: assustados com o barulho dos fogos de artifício, vários cães fugiram
e estão desaparecidos ou se machucaram. Perdidos pelas ruas de BH, os
animaizinhos mobilizaram bombeiros, policiais e vários moradores solidários que
se esforçam para dar um fim a esse sofrimento.
Apenas neste período de celebrações de fim de ano, foram vários
os casos de animais que fugiram ou que acabaram em situações perigosas por
causa do medo. Tanto o Corpo de Bombeiros como a Polícia Militar foram
acionados para resgatar cães que se assustaram e ficaram presos em locais de
difícil alcance. É o caso de dois cães resgatados pela PM logo no primeiro dia
do ano – um em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, e outro em Lagoa Santa, na
região metropolitana. Assustados, os dois acabaram ficando presos entre os
muros das casas em que viviam.
A mesma coisa aconteceu com o cãozinho Bolinha, que deu trabalho
para os bombeiros após cair e ficar preso em um vão. “Durante a virada do ano,
o Bolinha se assustou com o barulho dos fogos de artifício e saiu correndo em
desespero. Ele pulou o muro de casa e acabou caindo em um vão entre dois
muros”, disse a corporação. A profundidade do local em que ele estava era de
2,5 metros e, depois de cair, Bolinha ainda avançou cerca de três metros,
dificultando ainda mais o trabalho.
No final, os
militares conseguiram resgatá-lo sem precisar quebrar o muro, mas reforçaram o
alerta: “Os cães têm ouvidos muito sensíveis, capazes de ouvir timbres
inaudíveis para os humanos. Se para nós o espetáculo já é bem barulhento, para
eles é um enorme estrondo”. A corporação ainda explicou que o barulho pode
causar dores nos animais e até danificar a audição dos filhotes. “Por isso,
seja consciente, não solte fogos de artifício”, finalizou.
Transtorno não acabou
Para os cãezinhos resgatados pelas autoridades, o final foi
feliz. Mas, infelizmente, o mesmo não pode ser dito sobre os vários outros que,
transtornados pelo barulho, fugiram de casa e se perderam nas ruas da capital.
No caso deles, os primeiros dias do ano já são solitários e trazem muita
preocupação para os donos.
É exatamente esse o transtorno vivido pela família da Kika, uma
cachorrinha que ainda está perdida desde que se assustou com os fogos na última
quinta (31). Os donos tomaram todos os cuidados possíveis e chegaram a ficar
com ela no colo para evitar uma fuga, mas o transtorno foi tanto que ela
escapou mesmo assim, conforme conta Mithale dos Santos ao BHAZ.
“Aqui perto soltam muitos fogos e ela tem muito medo. Aí a minha
sobrinha que tá gravida foi passar no portão e a cachorrinha saiu”, lembra. Ela
explica que o dono da cachorrinha conseguiu pegá-la da primeira vez, mas ela
continuou assustada e fugiu novamente. “Meu cunhado pegou ela e deu para minha
sobrinha. Só que ela [Kika] ficou assustada com os barulhos, pulou do colo da
minha sobrinha e fugiu”, conta.
Mithale afirma ainda
que a família tentou encomendar cartazes para divulgar o desaparecimento de
Kika – que precisa tomar remédios controlados – pela cidade, mas encontrou
todas as gráficas fechadas por causa do feriado. Agora, eles contam com a
colaboração de outros moradores para conseguir encontrar a cachorrinha. Quem
tiver informações sobre o paradeiro de Kika pode entrar em contato pelos
telefones (31) 99361-4263, (31) 99407-6514 ou (31) 99374-881.
À procura de um dono
Ainda que sejam diretamente afetados pela falta de cuidado dos
que insistem em soltar fogos de artifício nesta época, alguns animais dão a
sorte de encontrar moradores solidários que tentam ajudá-los a voltar para
casa. Quem deu exemplo neste quesito foi um casal que mora no bairro Ouro
Preto, na região da Pampulha. Cássio Pedrosa estava saindo de casa quando se
deparou com um cãozinho perdido e assustado. Depois de pegá-lo e passar quase
duas horas procurando o dono pela região, ele e a esposa, Fransuelen Silva,
resolveram abrigar o cão na própria casa até conseguirem achar o tutor.
“Eu fiquei com ele e trouxe pra casa principalmente porque tem
um indicativo muito forte de que ele tem um dono”, contou Cássio ao BHAZ. Ele
explica que o cão estava muito bem cuidado e que, apesar de não ter conseguido
achar o dono, várias pessoas da região afirmaram que havia uma mulher
procurando pelo cão. “Aí a gente decidiu ficar com ele para tentar achar essa
pessoa. Quando a gente se coloca no lugar, pensa que, caso fosse a nossa
cadela, a gente certamente seria muito grato a quem quer que ajudasse”, pontua.
Eles levaram o
cãozinho para casa e, desde então, ele convive com os dois animais de estimação
do casal – uma cachorrinha e um gato. O casal já divulgou o caso em várias
redes sociais e espera encontrar um dono em breve, já que não têm como manter o
bichinho em casa. “A gente está tentando fazer de tudo para manter ele bem. É
importante sempre imaginar que ele poderia estar na rua agora”, lembra
Fransuelen.
Enquanto o dono não aparece, o casal cuida do cão com a mesma
atenção dedicada aos próprios bichos: “Estamos na espera do dono aparecer e que
isso tenha um final feliz. A gente não tem condições de ficar com ele aqui,
mas, por enquanto, vamos ficar e ele está recebendo todo o amor e carinho que
um cachorrinho merece”, diz Fransuelen. Quem tiver informações sobre o dono do
cão pode entrar em contato com ela pelo Instagram @fransuelen.s.
Mais um cão perdido
E não é só no Réveillon que os cãezinhos se perdem. Para uma
família de Betim, na região metropolitana de BH, o pesadelo começou mais cedo.
A cachorrinha deles fugiu na véspera de Natal, também assustada com fogos de
artifício. “Eu tinha ido ao supermercado e estavam soltando foguetes. Acredito
que ela tenha fugido quando entramos na garagem com o carro”, conta Camila
Gomes ao BHAZ.
Camila conta que a cachorrinha Pitucha sempre ia ao encontro dos
donos quando eles chegavam em casa e, quando isso não aconteceu no dia 24, eles
já se preocuparam. “Andamos pelo bairro procurando ela, tentamos de tudo,
cartazes, divulgações nos grupos de cachorros, mas infelizmente não temos
notícias ainda”, conta. Quem tiver informações que possam ajudar a localizar
Pitucha pode entrar em contato pelo telefone (31) 98807-8963.
Como os fogos afetam
os cães
Os efeitos dos
estímulos dos fogos de artifício nos cachorros já são um pouco mais conhecidos
e compartilhados. Em entrevista anterior ao BHAZ,
Paula Mayer Costa, médica veterinária neurologista da UFMG, explicou que o
animal escuta melhor que os seres humanos: “Eles têm esse sentido mais aguçado.
Com isso, provoca-se uma excitação no animal e, com o barulho dos fogos,
desencadeia diversas alterações”.
“O animal pode ter convulsões e problemas cardíacos, por
exemplo. Eles ficam com muito medo, tentam se defender, sair daquele lugar que
está com muito barulho. O primeiro instinto dele é fugir. Por isso, nesses
momentos, não é recomendável abrir portas ou janelas da casa, para que o animal
não saia”, contou Paula.
Para evitar uma crise, a recomendação básica é colocar tampões
de algodão nos ouvidos dos animais, colocar faixas para protegê-los e tocar
música clássica para acalmá-los. “Tentar manter o ambiente o mais tranquilo
possível, ficar perto deles nesse momento”, completou a médica veterinária.
Não prejudica só os
animais
Animais domésticos, como cães e gatos, não são os únicos que a
sofrer com os estímulos dos fogos de artifício disparados, principalmente, no
fim do ano. Em 2019, o apresentador Marcos Mion fez questão de lembrar quem
também está sujeito a entrar em crise diante da queima de fogos: as pessoas
portadoras do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Neste ano, o apresentador –
que é pai de Romeo Mion, adolescente portador do TEA – reforçou o recado neste
ano. Ao lado dos filhos, ele lembrou as pessoas que devem ser lembradas antes
da queima de fogos.
O alerta do apresentador tem embasamento científico. Isso porque
portadores de TEA podem apresentar hipersensibilidade a estímulos visuais e
sonoros. Rosângela Gomes, professora do Departamento de Terapia Ocupacional da
UFMG, conta que os foguetes podem afetá-los negativamente. Ela falou a respeito
do assunto em uma reportagem da TV UFMG.
“Os fogos de artifício afetam de maneira bastante negativa as
pessoas que têm autismo. Seja pelo estímulo auditivo ou visual, que são muito
intensos na noite de ano-novo, as pessoas com autismo, seja um bebê, uma
criança, um adolescente ou um adulto, vivenciam isso de maneira muito intensa e
muito negativa”, explicou.
(Foto: Arquivo Pessoal/Camila Gomes)
Giovanna Fávero, edição de Thiago Ricci
Fonte: BHAZ
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