Felizmente, com a Lei Feliciano, que
está completando 10 anos de existência, o que sobrou da antiga carrocinha são
apenas tristes lembranças. Quem se lembra da caçada de cães e gatos pelas ruas
de SP? De 1973 a 2008 o terror que percorria as ruas laçando brutalmente cães e
gatos tinha o apelido de carrocinha. Era um veículo, do tipo utilitário, com
uma caçamba adaptada para receber os animais capturados por agentes da
prefeitura.
Em desespero, latindo e chorando,
eles seguiam até o CCZ – Centro de Controle de Zoonoses para um cruel fim que
podia ser em câmara de gás, de descompressão (que suga o ar e mata por
asfixia), injeção letal, com choque e a pauladas. Só escapavam da morte os
animais que fossem resgatados pelos tutores no prazo de curtos três dias pagando
uma multa.
Em 17 de abril de 2008, quando foi
sancionada a Lei Feliciano (nº 12.916), do deputado Feliciano Filho, que passou
a proibir a matança indiscriminada de animais de rua pelos canis municipais, a
população paulista pode respirar aliviada, afinal, tinham sido mais de 30 anos
de crueldade contra os animais fossem eles de rua, com tutores, doentes ou
saudáveis, filhotes ou até mesmo fêmeas gestantes.
A matança de animais de rua ou que
simplesmente estavam na rua foi uma medida da prefeitura de SP para prevenir a
raiva, mas mesmo com a doença erradicada no estado, o CCZ continuou capturando
centenas de animais por dia e matando milhares todos os anos alegando controle
populacional.
“A minha lei propiciou uma mudança de
paradigma, por isso já está sendo implantada na maior parte dos estados
brasileiros. O controle populacional de cães e gatos sem matança e por meio da
castração é, aliás, a recomendação da OMS – Organização Mundial da Saúde”,
comenta o deputado Feliciano.
Relatos de quem testemunhou as
tristes décadas da carrocinha
Um antigo filme de Mazzaropi chamado “Carrocinha de cachorro” retrata bem como a população reagia a esse método de controle populacional de cães e gatos:
Um antigo filme de Mazzaropi chamado “Carrocinha de cachorro” retrata bem como a população reagia a esse método de controle populacional de cães e gatos:
“Eu chorava quando via eles pegando
os bichinhos, nem dormia. Em Itaquera a carrocinha passava direto e a gente
xingava, tacava pedra e pedia pra Deus proteger os bichinhos. Graças a Deus
agora tem lei proibindo aquilo” – Regina Célia da Silva
“Às vezes, na saída da escola,
presenciava a carrocinha pegando os cachorros. Eles gritavam! O cara tirava o
cambão e arremessava o bichinho. Meu pai falava que eles faziam sabão deles.
Que lembrança horrível meu Deus!” – Luciana Lanzillo
“Em 1990 estava grávida e vi a
carrocinha na Av Angélica capturando uma cachorra recém-parida com dois
filhotes. Gritei, bati no veículo e um rapaz veio me ajudar. Salvamos os três.
Ufa! Quase perdi meu bebê que estava pra nascer, mas valeu a pena!” – Luciana Brozzolin
“Tinha um vira-lata chamado Duque na
rua que foi levado pela carrocinha umas três vezes. Eu e meu pai íamos
buscá-lo. Depois ele ficou tão esperto que quando a Carrocinha passava ele
corria com a cabeça baixa para o laço não entrar nele e vinha se esconder em casa” – Fátima Antunes
“Uma vez a carrocinha pegou uma
cachorrinha na frente da nossa casa. Do outro lado da rua tinha uma escola.
Minha mãe gritava tanto que os alunos saíram pra rua e foram ajudar. Com o
escândalo soltaram a cachorrinha que morreu velhinha” – Fátima Aguetoni
“Quando a carrocinha apontava na rua
todos nós começávamos a colocar os cachorros pra dentro. Certa vez laçaram o
Neguinho, cachorro de casa. Entramos em pânico e a vizinhança em peso foi
ajudar! Por fim o rapaz soltou o cachorro que acabou morrendo de velhice. Não
gosto nem de pensar! Ainda bem que não tem mais!” – Miriam Almeida
“Eu era criança ainda quando um dia
vi a carrocinha passando em frente de casa. Tomei coragem e pulei na porta sem
que os homens vissem, pois, estavam tentando pegar um cachorro enorme. Tive a
chance de soltar todos os cachorros. Minha mãe foi chamada na prefeitura pra
pagar uma multa e fiquei de castigo um bom tempo. Mas nunca me arrependi!” – Jucimara Morais
Moro em Santo André e fui no CCZ duas
vezes buscar cães comunitários. Quando cheguei lá foi uma tristeza só porque
todos vinham nas grades abanando a cauda. Aquilo acabou comigo. Graças a Deus
recuperei os cães, paguei a multa e trouxe os dois para casa, mas com o coração
chorando pelos que ficaram” – Vânia Couto
“Era criança e escondia muitos
peludos na garagem na hora da carrocinha porque, depois que eles laçavam de
maneira estúpida e os jogavam pra dentro do veículo, nem mesmo os donos
conseguiam tirá-los de lá. Época muito triste!” – Ivete D`Angelo
“A Carrocinha chegava bem cedo. A
vizinhança saia as ruas de pijama espantando os cachorros para não serem pegos.
Era um terror! Um dia, o cachorro do meu irmão foi pego. Naquele época se você
não retirasse o animal em 3 dias, seria sacrificado. Meu pai foi no CCZ e
trouxe nosso cachorro de volta. Eram cenas muito tristes” – Cassia Cristina
“Era muito triste, crianças e adultos
corriam atrás dos cachorros para que não fossem laçados. Quando conseguiam
pegar algum era uma gritaria e choradeira. Os laçadores eram homens cruéis, sem
coração. Vi pegarem gato que estava no muro da casa onde o bicho morava” – Alice Moreira Marques
“Doei um casal de cães e depois a
adotante alegou que tinham fugido. Visitava o CCZ de SP a cada três dias. Os
cães que estavam na baia do terceiro dia sabiam que iriam morrer. Tinham um
olhar distante. Chegavam muitos animais e os colocavam nos canis sem qualquer
cuidado. Presenciei brigas e canis com animais doentes e saudáveis juntos.
Aqueles olhares pedindo socorro me tiravam o sono.Tantas vidas perdidas sem a
chance de defesa. Não encontrei o casal de cães e jamais esquecerei cada
carinha que vi na época” – Maria Cecílcia Bentini
“Minha vizinha tinha 20 cães e
soltava todos na praça. Pagávamos os agentes para não pegarem os cães. Um dia
mudou a equipe e 7 horas da manha eu saí de pijama e fui atrás da Carrocinha
com meu carro. Fechei o veículo e quando vi que não era o agente conhecido
comecei a gritar. Veio a rua toda me ajudar. Depois da negociação soltei todos,
até os cachorros que não eram da nossa rua” – Cristianne Tenerelli
Por Fátima
Chuecco
Fonte: anda.jor.br ( fotos: divulgação )
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