Eles passaram pelos
piores horrores, mas sobreviveram e estão cheios de vontade de continuar
vivendo. Perninha, Felipe e Átila, depois de dois meses de terríveis testes na
UFV – Universidade Federal de Viçosa (MG), foram salvos pelo gongo no final de
2015, pouco antes de serem sacrificados. Uma ação judicial inédita no Brasil
determinou a soltura dos 16 cães saudáveis que estavam aguardando adoção no
CCZ, mas foram levados para dolorosos experimentos dentro da UFV.
Pythagóras, embora
noutra situação, também escapou por um triz. Teria sido transformado em cobaia
se a professora Odete Miranda, da Faculdade de Medicina do ABC (SP), não o
tivesse resgatado pouco tempo antes de ser capturado no campus. Isso foi em
2006 e até hoje Pythágoras vive com a professora. “A faculdade estava fazendo o
comparativo do uso de animais vivos e mortos. Assim, durante aquele ano eles utilizavam
dois cadáveres de cães versus dois cães vivos, por turma, nas aulas práticas de
técnica cirúrgica”, conta.
“Em dezembro, ao acabar o ano, sobrou no canil um cão já adulto
e, como entraríamos em férias, a veterinária do biotério liberou esse cão para
que ele ficasse solto no campus da faculdade e, no retorno das aulas, ser
reconduzido ao canil para aula prática de técnica cirúrgica. Essa informação
foi me passada pelo funcionário do estacionamento e assim eu o levei para casa
na mesma hora. Ele foi o primeiro a se livrar da aula de técnica cirúrgica
abrindo um caminho de abolição para os demais”, continua a professora que foi
uma das maiores responsáveis pelo término do uso dos animais vivos na Faculdade
de Medicina do ABC em 2007.
Felipe e Átila
caíram nos braços da ativista Beatriz Silva, da ONG Bendita Adoção de SP. Ela
foi até Viçosa buscá-los: “Só de ligar a mangueira ou ver uma vassoura eles
urinam. Se alguém fala alto perto deles também se assustam. Não quero imaginar
o horror que passaram para ter tanto medo assim. Mas o dia do resgate foi o
primeiro do resto de nossas vidas juntos. Adeus sofrimento! Que a tortura do
Instituto Royal e em Viçosa sirva de exemplo para isso terminar”, comentou ela
em entrevista dada à Anda na ocasião. Devido as sequelas, Felipe
e Átila são tratados até hoje com fisioterapia e acupuntura.
À espera de um milagre
De todos os 16
sofridos cães de Viçosa, apenas um não conseguiu lar até hoje, o Perninha, que
se encontra no abrigo da ONG Cão Sem Dono, de SP. Ele teve seus momentos de
fama durante a audiência pública “Uso de animais vivos no ensino: ainda é
necessário?”, realizada no final de 2016 e promovida pelo deputado estadual
Feliciano Filho na Assembleia Legislativa de SP. O público se encantou com
Perninha, inclusive, o aplaudiu muito quando foi apresentado aos palestrantes.
Ele ainda apareceu em diversas reportagens sobre a audiência, mas mesmo assim
entrou em 2017 sem qualquer chance de ser adotado.
Do mesmo modo que seus colegas de tortura, Perninha teve
importantes ligamentos das pernas rompidos e manca um pouco, mas seu tratamento
segue os moldes dos demais cães e ele pode ter uma longa vida como a de
qualquer outro animal. Tem um semblante meigo e é muito manso e simpático, mas
depois de um ano participando de dezenas de feiras de adoção, agora Perninha
parece estar à espera de um milagre: o de finalmente ser adotado. Perninha não
é um simples cão. Ele é símbolo da luta contra a vivissecção, assim, como seus
ex-companheiros de viagem… uma viagem que, por dois meses, os levou ao inferno.
Na pesquisa
científica ainda existe uma grande resistência em libertar os animais e
deixá-los definitivamente em paz. Mas por que até mesmo no ensino a vivissecção
persiste? Tratamentos de certas doenças podem, por exemplo, ser testados em
animais que realmente possuem essas enfermidades tornando-se pacientes e não
cobaias. No lugar de Perninha, Felipe e Átila, que eram absolutamente
saudáveis, animais com a doença alvo do experimento podiam ter sido
beneficiados com uma possível cura ou amenização do problema.
É hora de se
modernizar o ensino – o que serve também para Orgãos reguladores e
financiadores dessas pesquisas. E é hora também da mídia em geral tirar esse
assunto do porão e dar a devida importância às inovações para evitar esse
sofrimento da vivissecção que é um dos mais terríveis. Há muitos métodos
substitutivos para todos os procedimentos e as universidades têm obrigação de
oferecer isso aos seus alunos, pois, grande parte deles ainda pensa que não há
outra maneira eficaz de aprendizado.
*Fátima ChuEcco é
jornalista ambientalista e da causa animal
Fonte: anda.jor.br (
foto: divulgação )
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