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terça-feira, 30 de abril de 2024

Caso Gabriel: protesto exige fim de maus-tratos contra animais após cão ser amarrado a carro e arrastado por 1km até a morte

 


Foto: Rosângela Jacinto Ribeiro

Uma manifestação pacífica organizada pela Organização Não-Governamental (ONG) Adapv reuniu, no início da noite de segunda-feira (29), cerca de 30 pessoas que, em frente à Câmara Legislativa de Presidente Venceslau (SP), reivindicaram o fim dos maus-tratos contra animais, sobretudo após o caso envolvendo Gabriel, cachorro que foi amarrado a um carro e arrastado por cerca de 1km até a morte, no dia 18 de abril, em decorrência de uma suposta mordida.

Integrante do grupo e uma das organizadoras da ação, Rosângela Jacinto Ribeiro ressaltou que o ato é uma “manifestação da indignação e da revolta em razão da crueldade feita contra o cachorro”.

“Nós, como protetores de animais, estamos cansados da impunidade. Queremos a prisão do autor”, disse a manicure.

No cartazes levantados pelos manifestantes, dizeres como “justiça pelo Gabriel”, “denunciem os maus-tratos”, “a justiça tem que ser feita” e “somos a voz deles, não deixaremos impunes”; uma forma de amplificar a voz dos que lutam pela causa animal e estão cansados de testemunharem casos como o ocorrido dias atrás.

“A gente quer que, no mínimo, a pessoa seja punida, porque isso não se faz, você tirar o animalzinho da casa dele, praticar essa crueldade. O mundo está muito cruel, as nossas leis não estão sendo respeitadas, e isso nos revolta muito enquanto protetores. A gente cuida de animais na ONG, temos nossas equipes de voluntários, que nos ajudam, então a gente quer que a justiça seja feita”, ressaltou a integrante.

‘Muito revoltante’

Maria Antônia de Morais também é integrante da ONG e foi a primeira pessoa a encontrar Gabriel já sem vida. Ela disse que chegou ao local por meio de ligações e mensagens anônimas, que denunciavam o caso de maus-tratos.

De início, não foi possível identificar se realmente era o cachorro, já que restavam apenas partes da carcaça do animal, devido à brutalidade com que foi arrastado por cerca de 1km ao longo da rodovia. A cor e o porte dele, porém, apontaram que se tratava de Gabriel.

“Foi muito difícil ver ele nessa situação. Muito revoltante. É triste ele ter sido morto dessa maneira”, lembrou.

Indiciado

A Polícia Civil concluiu e já enviou à Justiça o inquérito instaurado para investigar o caso. O envolvido foi indiciado com base no artigo 32 da lei nº 9.605, de 1998, que criminaliza os maus-tratos a animais.

A pena varia de dois a cinco anos de prisão em se tratando de cão ou gato, além de multa e proibição da guarda. No entanto, como houve a morte do animal, a pena tem aumento de um sexto a um terço, conforme a mesma legislação.


Foto: Rosângela Jacinto Ribeiro

Relembre o caso

O suspeito de ter arrastado com o carro o cachorro até a morte prestou depoimento à Polícia Civil na última quinta-feira (25). Na ocasião, alegou que, na madrugada do dia 18 de abril, horas depois de o animal ter “mordido o seu filho”, de quatro anos, “ele ingeriu bebida alcoólica”.

De acordo com o Boletim de Ocorrência registrado por um dos tutores do animal, de 64 anos, no dia 17 de abril, o rapaz estava com o filho dele na casa da família vizinha, localizada no Conjunto Habitacional Watanabe. Segundo os tutores, já era de conhecimento dos moradores do bairro que o cão era arisco, motivo pelo qual reiteraram o alerta para o rapaz, já que ele estava com a criança.

Em dado momento, devido a um suposto gesto brusco do garoto, o cachorro, de raça indefinida (SRD), teria avançado na criança, momento em que o pai colocou o braço na frente e acabou sendo mordido.

À polícia, o investigado disse que o rosto e a orelha do filho ficaram machucados, e que a própria tutora do cão, Maria Magnalda, de 65 anos, havia feito um curativo no menino, depois de se oferecer para levar pai e filho até a Santa Casa de Misericórdia da cidade para receberem atendimento médico, “socorro que foi dispensado pelo homem”.

‘Não percebeu’

O relato detalhou que, tempo depois, o envolvido ainda teria levado à casa da família vizinha um saquinho contendo carne de peixe, no entanto, as polícias Civil e Militar Ambiental suspeitam que o conteúdo entregue trata-se de carne silvestre, “possivelmente de jacaré”. O delegado Adalberto Gonini, responsável pelas investigações, disse que o material está sendo analisado pela perícia.

Já por volta das 2h30 do outro dia, após ingerir bebida alcoólica, o investigado admitiu que abriu o portão da casa da frente e chamou o animal, que respondeu ao comando do conhecido e saiu para a rua. Neste momento, o rapaz teria amarrado uma corda ao pescoço do cão, o colocado dentro do carro, no banco passageiro da frente, e amarrado a outra ponta da corda no freio de mão do veículo.

A intenção dele, conforme a Polícia Civil disse, era levar o cachorro até uma área de sítio, mas, o movimento da Rodovia General Euclides de Oliveira Figueiredo, a Rodovia da Integração (SP-563), pela qual transitava, fez com que o motorista “não percebesse o momento em que o cão pulou pela janela do carro e ficou pendurado pela corda”. O suspeito só se deu conta de que o animal tinha morrido quando parou o veículo, no sentido do bairro Cecap, e o deixou lá.

“Agora, nós aguardamos o recebimento do laudo da perícia, referente à análise da carne entregue pelo suspeito à família, e também o depoimento da tutora. Após isso, remeteremos o inquérito ao Poder Judiciário”, enfatizou Gonini.

Além disso, o cabo Evandro Sanches Torquato, da Companhia de Polícia Militar Ambiental, informou à reportagem que o envolvido já foi multado em R$ 6 mil pelos crimes de maus-tratos e morte do cachorro.

‘Confessou e pediu perdão’

No dia seguinte ao ocorrido, a tutora notou que o animal já não estava mais no quintal. Segundo a Polícia Ambiental, ela foi até a casa de uma vizinha e, juntas, se dirigiram até a residência do rapaz, que alegou ter dado o cão para um amigo.

Questionado sobre a doação sem autorização da tutora, ele teria confessado que matou o cachorro. Conforme o boletim, a esposa do suspeito declarou que não estava em casa no dia, mas que “o esposo confessou à tutora que havia matado o cão”.

Segundo o que informou à Polícia Ambiental, o rapaz “tomou rumo ignorado e, antes de ir embora, disse que procurou um advogado, sendo que, quando fosse intimado, compareceria na delegacia”.

Ainda conforme a Polícia Ambiental, o corpo do animal foi encontrado por integrantes da ONG Adapv.

O delegado Sthefano Rabecini informou que a tutora do cachorro tem problemas de coração e, após o ocorrido, precisou ser hospitalizada na Santa Casa de Presidente Venceslau.

‘Companheiro’

Josiane Prates, nora da tutora, disse que a sogra foi presenteada com o cachorro pela neta, após enfrentar uma depressão motivada pela morte do filho, o sargento da Polícia Militar José Valdir de Oliveira Junior, de 37 anos, morto por tiros disparados por um homem que se passou por policial civil, na Região Metropolitana de São Paulo, em agosto de 2020.

“Ele era como um filho para ela. Sempre muito bem tratado. Até comida no garfo ela dava para ele”, lembrou.

Segundo a nora, que visitou a idosa ainda na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), para onde foi encaminhada após dar entrada no Pronto-socorro, o rapaz, com quem sempre teve uma relação amistosa, chegou a ir na casa da vizinha “para pedir perdão”. No entanto, em uma dessas ocasiões, acabou sendo expulso por ela.

Neste mesmo dia, ela teria ido a um estabelecimento comercial, onde ouviu pessoas dizerem que “o suspeito estava se gabando por ter matado o animal”. Depois disso, sofreu um infarto e precisou ficar internada.

Ainda de acordo com a nora, a idosa foi transferida para o Hospital Regional (HR), em Presidente Prudente (SP), onde fez um cateterismo.

O hospital informou que a paciente deu entrada no Pronto-socorro da unidade às 8h24 do dia 23 de abril, “onde foi prontamente atendida pela equipe médica e multiprofissional”.

“Devido à estabilidade de seu quadro clínico, recebeu alta hospitalar na tarde da última sexta-feira (26)”, atestou.

Nesta segunda-feira (29), Josiane Prates voltou a falar com a reportagem do g1 e informou que Maria Magnalda voltou a Presidente Prudente para realizar exames, e que “o médico dela não a liberou para ir na manifestação”.

Orientou à paciente, também, para que seja submetida a procedimentos de inserção de stent coronário e de pontes de safena, para melhorar o funcionamento do coração.

‘Barbaridade’

Em mensagens de áudio enviadas exclusivamente ao g1 pela nora de Maria Magnalda, enquanto ainda estava no hospital, a idosa relembrou o dia em que descobriu sobre a morte do companheiro de quatro patas.

“Eu achei que ele [suspeito] fosse soltar o Gabriel em algum lugar. Tanto que, de manhã, quando eu fui na casa dele para saber da mão dele e do menino, eu perguntei para ele onde estava o cachorro, foi aí que ele mandou um áudio para um amigo, dizendo que tinha deixado o cachorro na casa dele. Aí eu disse: ‘pelo amor de Deus, vamos lá’, e ele respondia: ‘não, deixa ele por lá’. Eu insisti e disse que colocaria combustível no carro dele para ir buscar […]. Quando ele percebeu que o negócio ia ‘feder’ para o lado dele, ele começou a me pedir perdão e chorar”.

Para ela, o pior não foi a morte do cachorro, pois, “mais cedo ou mais tarde, ele iria morrer”, mas, sim, a maneira como o investigado, amigo da família, fez isso.

“A barbaridade que ele fez não tem perdão, não”, concluiu.

Fonte: G1

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