Pages - Menu

quinta-feira, 21 de março de 2024

Empresária Kris Tompkins anuncia parceria com ONG brasileira para criar corredor de vida selvagem na América do Sul


 Foto: @AndiVillarrea/Rewilding Argentina

Em 1993, Kristine Tompkins deixou o cargo de CEO da empresa de roupas esportivas Patagonia para viver na Patagônia chilena com o marido Douglas Tompkins, fundador das marcas The North Face e Esprit. Nas décadas seguintes, o casal de milionários americanos se dedicou à causa da conservação da biodiversidade, comprando vastas extensões de terras no Chile e na Argentina para restaurá-las, preservá-las e devolvê-las para uso público.

A fundação criada pelo casal, Tompkins Conservation, foi responsável por criar ou expandir um total de 15 parques nacionais no Chile e na Argentina, incluindo dois marítimos. Com doação de US$ 380 milhões de sua fortuna pessoal e arrecadação de outros quase US$ 200 milhões com terceiros para seus projetos de conservação, os Tompkins se tornaram uma referência mundial em filantropia ambiental.

Douglas morreu em um acidente de caiaque em 2015, mas Kristine seguiu com o trabalho. Em 2018, a conservacionista fez a maior doação de terras privadas da história num acordo assinado com a então presidente chilena, Michelle Bachelet, para a criação de uma rede de parques do tamanho da Suíça. A história é contada no documentário da National Geographic “Wild Life”, dirigido por Chai Vasarhelyi e Jimmy Chin, vencedores do Oscar por “Free Solo”.

Kristine concedeu entrevista à ÉPOCA NEGÓCIOS e UM SÓ PLANETA em São Paulo, na casa da filantropa, ambientalista e empreendedora social Teresa Bracher e seu marido, Candido Bracher, ex-presidente do Itaú Unibanco. Em jantar oferecido a apoiadores do Onçafari, ONG brasileira que atua na conservação da biodiversidade e é dirigida pelo empresário e ex-piloto de corridas Mario Haberfeld, a americana anunciou uma parceria com a instituição.

O objetivo da união de forças é a criação de um corredor de vida selvagem na América do Sul, conectando as terras alagadas do Parque Nacional Iberá, na Argentina, ao Pantanal brasileiro, passando pelo Paraguai. A filantropa californiana estava acompanhada da bióloga Sofía Heinonen, CEO da Rewilding Argentina, fundação que surgiu dentro da Tompkins Conservation e hoje é independente.

Você realizou a maior doação de terras privadas para criação de parques nacionais. Acha que esse exemplo pode inspirar outros milionários a fazerem o mesmo?

Acho que, por conta do que fizemos, as pessoas puderam ver que é possível fazer algo numa escala e de uma maneira que elas nunca tinham imaginado antes. Isso teve impacto no mundo da filantropia para conservação, mas não o suficiente. As pessoas gostam do que fazemos, mas, em termos de famílias milionárias, a maioria não quer participar dando dinheiro. Existem poucas pessoas, como Ted Turner e Hansjörg Wyss, que realmente estão preservando grandes extensões de terra pelo mundo.

Como a experiência de dirigir uma empresa como a Patagonia ajudou a liderar grandes projetos de conservação de biodiversidade?

Nunca fiz faculdade de Administração, mas acho que o mundo dos negócios faz com que você se torne uma pessoa mais dura e mais resistente do que muitos ambientalistas costumam ser. Você tende a ser mais focado e a não desistir fácil. Existe uma disciplina nos negócios, uma capacidade para lidar com orçamentos que ajuda a fazer as coisas acontecerem. Douglas [Tompkins] e Yvon [Chouinard, fundador da marca Patagonia] são os caras de perfil visionário com quem eu trabalhei, aqueles que têm as grandes ideias. Eu sou boa em fazê-las acontecer. Ainda trabalho com Yvon, 30% do meu tempo é dedicado à empresa Patagonia, mas atualmente só exerço funções simples.

As grandes empresas globais estão fazendo o suficiente para combater o aquecimento global?

Não estão nem perto disso. Existe a impressão de que os líderes de companhias globais e os governantes não têm muita certeza sobre qual é o impacto deles e o que está acontecendo em termos ecológicos e sociais no planeta, mas isso não é verdade.

“Todas as empresas sabem exatamente o que estão fazendo porque possuem centenas de analistas, cujo único trabalho é prever cenários futuros e planejar sua expansão. Então é muito desencorajador que, sabendo o que sabem, não escolham fazer a coisa certa”, disse Kristine Tompkins.

Se você olhar para as reuniões da COP (Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas), não vejo um desejo coletivo para realizar as mudanças necessárias. Talvez se ocorrer algum Cisne Negro [evento imprevisível que afeta o mercado] e as coisas ficarem realmente difíceis, aí as pessoas serão forçadas a mudar.

Como você e Douglas foram recebidos quando começaram a comprar terras no Chile no início dos anos 90?

Alguns chilenos gostavam de nós porque estávamos protegendo aquelas áreas e falávamos que íamos devolvê-las ao país assim que construíssemos a infraestrutura necessária para criar parques nacionais. Mas eram uma minoria. De forma geral, o Chile se vê como um país pobre, em desenvolvimento. Se você tem uma área gigantesca de florestas e não as derruba para comercializá-las, isso vai contra a ideia que muitos chilenos têm sobre progresso econômico.

Havia uma desconfiança sobre a real intenção de vocês, um casal de americanos vivendo na Patagônia chilena?

Sim, estávamos comprando terras que iam da fronteira com a Argentina até o Oceano Pacífico. Fomos acusados das coisas mais variadas: disseram que queríamos dividir o Chile ao meio, que iríamos criar um estado judeu (sendo que nenhum de nós é judeu), que iríamos estabelecer uma base militar argentina ou um depósito de lixo nuclear norte-americano.

Como fizeram para conquistar a confiança deles?

Duas coisas aconteceram: a primeira foi a chegada de Ricardo Lagos à presidência do Chile no ano 2000. O presidente anterior, Eduardo Frei, era do tipo old-school e não gostava de Doug. Já Lagos é socialista, tem uma mente sofisticada, viveu exilado em Paris durante a ditadura. Quando soube o que estávamos fazendo, disse: “Isso é bom para o país”. A segunda coisa é que terminamos a infraestrutura do nosso primeiro parque, o Pumalín. Então as pessoas começaram a acampar ali, usar as trilhas e fazer escaladas. Elas puderam ver que estávamos fazendo aquilo que dizíamos que iríamos fazer.

Quais foram os momentos mais difíceis?

Os primeiros cinco ou seis anos com os militares, eles não gostavam de nós. Éramos espionados, nossos telefones foram grampeados durante anos, aviões militares voavam baixo sobre a nossa casa para nos intimidar e nos tirar de lá. Também foram duras as brigas com a indústria do salmão. Somos contra a criação comercial de salmão, mas essa é uma luta muito difícil de travar.

Como a morte de Doug num acidente de caiaque em 2015 afetou sua vida?

Nos meses seguintes à morte dele, eu não queria continuar vivendo. Doug era a pessoa que eu mais temia perder na vida, e eu o perdi de um dia para outro. Foi muito difícil para mim e para as pessoas que estavam a minha volta, mas hoje vejo que o luto me fortaleceu.

Qual foi a importância da então presidente do Chile, Michelle Bachelet, para a criação dos parques nacionais com as terras doadas por vocês?

Foi total. Ela gostava muito de Doug. Quando Doug morreu, houve uma comoção muito grande que ajudou a tornar possível que esses parques fossem criados. Então teve esse lado emocional, mas se Michelle não quisesse fazer, teria sido impossível. Ela é uma mulher notável, muito inteligente.

O que é essa parceria no Brasil que você está anunciando com a ONG Onçafari?

O que estamos fazendo é algo que conversei com a Sofía Heinonen, CEO da Rewilding Argentina. Eu fico com a parte mais fácil, que é a de ajudar a levantar recursos e dar um empurrão nesses projetos de conservação, mas é Sofía quem coloca a mão na massa. Então acho que ela deveria falar sobre isso.

Sofía Heinonen – Eu trabalho há mais de 20 anos com a Kris, estive à frente da criação de parques nacionais na Argentina, incluindo o de Iberá, na região de Corrientes. Nós fazemos a restauração de ecossistemas, reintroduzindo espécies nativas extintas. Atualmente temos 21 onças-pintadas vivendo livremente em Iberá. Foram reintroduzidas espécies que exercem um papel-chave para que o ecossistema funcione bem, como a onça-pintada, o tamanduá-bandeira e o veado campeiro. Só que esses animais começaram a aumentar suas populações e a se dispersar. A área de Iberá já não é suficiente para eles, então temos que ligar o parque a outros lugares onde existam ecossistemas completos e funcionais como o Pantanal.

Como vai funcionar esse corredor?

Sofía – Queremos ligar o Pantanal a Iberá ao longo do entorno do Rio Paraguai e ter lugares onde a vida selvagem possa se reproduzir. Então viemos conversar com a Teresa Bracher [filantropa, ambientalista e membro do conselho da ONG Onçafari] e com o Mario Haberfeld, [fundador e CEO do Onçafari]. Estamos localizados na parte sul da Bacia do Paraguai e eles estão na parte norte, no Pantanal. Estamos procurando uma forma de trabalharmos juntos e nos unirmos a ONGs paraguaias para conectar essas áreas protegidas, criando trampolins para que esses animais possam se mover de uma a outra sem serem mortos no caminho.

No Brasil, a parceria é só com o Onçafari?

Sofía – Sim, mas o Onçafari terá que fazer parcerias com outras ONGs e o governo brasileiro. Nós, na Argentina, teremos que estabelecer parcerias com outras ONGs e o governo argentino. É como ter pares pensando da mesma forma, mas construindo suas próprias redes.

Kristine – Acho que as pessoas vão gostar de fazer parte dessa rede porque sabem que temos experiência e escala para fazer um projeto como esse acontecer. Isso pode servir como um imã. É algo mais seguro porque você não está sozinho, faz parte de uma rede.

A inspiração para o rewilding (estratégia para restauração biológica e ecológica) em Iberá veio da reintrodução de lobos feita no Parque de Yellowstone, nos EUA, nos anos 1990?

Kristine – Sim, é o caso mais emblemático.

Sofía – Os lobos estavam extintos em Yellowstone. O Canadá doou alguns animais para a reintrodução em Yellowstone. Algo parecido ocorreu em Iberá. Recebemos do Onçafari a doação do macho Jatobázinho, uma onça-pintada do Pantanal que foi levada para Iberá. Ele tinha aparecido muito doente e debilitado na Escola Jatobazinho, apoiada por Teresa Bracher, nas margens do Rio Paraguai. Foi tratado pela equipe do Onçafari, reaprendeu a caçar e foi levado para Iberá, onde cruzou com fêmeas vindas de outros lugares e teve filhotes. Recentemente um deles foi visto atravessando o rio em direção ao Paraguai.

Em quais projetos a Tompkins Conservation está trabalhando na América do Norte?

Kristine – Fazendo a mesma coisa que na Argentina: tentando reintroduzir onças. No México, já está funcionando. Estamos tentando trazer as onças pardas e os leões de volta ao nordeste do continente, de Washington D.C. até o Canadá. Eles estavam extintos ali desde os anos de 1930.

“Todos esses grandes mamíferos estão em processo de extinção. Quando pensamos nos mamíferos espalhados pela Terra, 96% são gado e seres humanos. Apenas 4% são animais selvagens. Então todas as baleias, os elefantes e outros grandes mamíferos que vêm à mente representam apenas 4% dos mamíferos que restaram no planeta. Precisamos trazê-los de volta”, disse Sofía Heinonen, CEO da Rewilding Argentina.

Você é otimista em relação ao futuro da humanidade?

Kristine – Temos que trabalhar duro para ter esperança e otimismo. No curto prazo, as coisas estão bem difíceis para imensas parcelas de humanos e não humanos em todo o mundo. Acho que nós, humanos, só faremos grandes mudanças quando formos forçados a isso – o que deve acontecer em breve. É urgente encontrarmos um reequilíbrio com a natureza.

Fonte: Um Só Planeta



COLABORADORES (AS)  DO  BLOG:


Marechal Deodoro (AL):   Secretário ANDRÉ BOCÃO – gente  da gente 
   Toda quinta feira às 08:00h., na Mares do Sul FM 87,9 programa TA NA BOCA DO POVO com  André Bocão. 


Vendas de mudas de: acerola, pitanga, couve e mastruz....
Consultório veterinário e Pet Shop dr Marcelo Lins: (82) 99981 5415 ... 


(MACEIÓ) VEREADORA TECA NELMA > VEGETARIANA ( MADRINHA  DO DEFESA  ANIMAL   EM AÇÃO )


Clinica veterinária Clinshop Maceió (82) 99675 8715 & Petcuisine.MCZ (82) 99950 5857 (alimento natural para cães e gatos )
  

Nenhum comentário:

Postar um comentário