“Querido
dono, hoje faz três dias que você esqueceu de mim aqui amarrado
a uma árvore. Espero que esteja tudo bem contigo e que venha me buscar assim
que puder.
Está muito calor e eu tenho sede, não bebo nada desde que me
trouxe para passear. Tenho fome também, mas já comi umas graminhas que
encontrei. Estou preocupado que tenha acontecido alguma coisa com você e que
eu, aqui preso, não possa te salvar!
Passou um esquilo por aqui e me disse que você não havia
esquecido de mim, mas que tinha me abandonado de propósito, como tantos donos
fazem agora que o verão começou e querem viajar de férias à vontade.
Eu rosnei e disse para se calar! Ele não sabe o que diz! Eu sei
que você seria incapaz de me abandonar… não seria? Eu sei que dava trabalho,
que às vezes me comportava mal e não aguentava passar um dia sozinho em casa
sem ir passear e acabava fazendo minhas necessidades no chão da cozinha.
Você brigava muito comigo e até me batia e, embora não tivesse
feito por mal, eu sei que a culpa era minha. Sei que às vezes estava frio e eu
demorava muito tempo quando me levava para passear.
Sei que quando o Bruno nasceu passou a me dar menos atenção mas
eu não achei mal, compreendo, ele é teu filho, como se fosse um irmão para mim.
Sempre fui um bom irmão para ele, lhe lambi as feridas e o protegi do aspirador
mesmo que ele me metesse medo com aquele barulho ensurdecedor.
Lembro-me bem de quando era pequeno, que me deixava aninhar no
teu peito e dormir no teu quarto. Que dizia para todo mundo que eu era um cão
muito fofinho! Com o tempo você foi se afastando um pouco de mim, mas eu
compreendo, estava cheio de trabalho e chegava em casa cansado e queria ficar
sozinho.
Eu tentava brincar contigo para te animar mas você me mandava
ficar quieto e ir para a minha cama, que agora já era na varanda. Uma vez eu
não obedeci e tentei brincar mais contigo, ladrei e tudo para entrar na
brincadeira e você me bateu. Me deu um pontapé no focinho com muita força. Doeu
muito e fiquei meio desorientado… não guardei rancor, passados 5 minutos estava
te pendido desculpa e você não quis saber de mim. Só me levou para passear no
dia seguinte e eu aguentei até lá!
Fui um bom cão, não fui?
Peço desculpa se às vezes fui barulhento, se pulei demais quando
chegava em casa e se arranhei suas pernas, mas como um cão meu amigo uma vez me
disse “Se quem você ama entra numa sala de cinco em cinco minutos, deve ir
cumprimentá-lo e mostrar que gosta dele da mesma forma eufórica em cada um
destas vezes”.
Se vier me buscar vou te receber de patas abertas, vou te lamber
a cara milhares de vezes e ser o melhor cão que um dono pode pedir. Por favor
não demore muito, não sei quanto tempo mais consigo aguentar, já sinto o frio
mesmo com este sol escaldante.
Do seu melhor amigo, Bobby”
Autor Luiz Guilherme
Fonte : Vet da Deprê(
foto: lustração )
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