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sábado, 15 de agosto de 2020

Carta de um cão abandonado ao seu dono

 

Querido dono, hoje faz três dias que você esqueceu de mim aqui amarrado a uma árvore. Espero que esteja tudo bem contigo e que venha me buscar assim que puder.

Está muito calor e eu tenho sede, não bebo nada desde que me trouxe para passear. Tenho fome também, mas já comi umas graminhas que encontrei. Estou preocupado que tenha acontecido alguma coisa com você e que eu, aqui preso, não possa te salvar!

Passou um esquilo por aqui e me disse que você não havia esquecido de mim, mas que tinha me abandonado de propósito, como tantos donos fazem agora que o verão começou e querem viajar de férias à vontade.

Eu rosnei e disse para se calar! Ele não sabe o que diz! Eu sei que você seria incapaz de me abandonar… não seria? Eu sei que dava trabalho, que às vezes me comportava mal e não aguentava passar um dia sozinho em casa sem ir passear e acabava fazendo minhas necessidades no chão da cozinha.

Você brigava muito comigo e até me batia e, embora não tivesse feito por mal, eu sei que a culpa era minha. Sei que às vezes estava frio e eu demorava muito tempo quando me levava para passear.

Sei que quando o Bruno nasceu passou a me dar menos atenção mas eu não achei mal, compreendo, ele é teu filho, como se fosse um irmão para mim. Sempre fui um bom irmão para ele, lhe lambi as feridas e o protegi do aspirador mesmo que ele me metesse medo com aquele barulho ensurdecedor.

Lembro-me bem de quando era pequeno, que me deixava aninhar no teu peito e dormir no teu quarto. Que dizia para todo mundo que eu era um cão muito fofinho! Com o tempo você foi se afastando um pouco de mim, mas eu compreendo, estava cheio de trabalho e chegava em casa cansado e queria ficar sozinho.

Eu tentava brincar contigo para te animar mas você me mandava ficar quieto e ir para a minha cama, que agora já era na varanda. Uma vez eu não obedeci e tentei brincar mais contigo, ladrei e tudo para entrar na brincadeira e você me bateu. Me deu um pontapé no focinho com muita força. Doeu muito e fiquei meio desorientado… não guardei rancor, passados 5 minutos estava te pendido desculpa e você não quis saber de mim. Só me levou para passear no dia seguinte e eu aguentei até lá!

Fui um bom cão, não fui?

Peço desculpa se às vezes fui barulhento, se pulei demais quando chegava em casa e se arranhei suas pernas, mas como um cão meu amigo uma vez me disse “Se quem você ama entra numa sala de cinco em cinco minutos, deve ir cumprimentá-lo e mostrar que gosta dele da mesma forma eufórica em cada um destas vezes”.

Se vier me buscar vou te receber de patas abertas, vou te lamber a cara milhares de vezes e ser o melhor cão que um dono pode pedir. Por favor não demore muito, não sei quanto tempo mais consigo aguentar, já sinto o frio mesmo com este sol escaldante.

Do seu melhor amigo, Bobby”

 

Autor Luiz Guilherme

Fonte : Vet da Deprê( foto: lustração )

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