Neymar é o mais antigo morador de um abrigo para
cãezinhos abandonados em Campo Grande (MS). Já participou de feiras de adoção,
viu vários cães irem embora com as novas famílias, mas ele ficou: Ninguém
queria adotá-lo.
Ele tem um topete estiloso e seu brinquedo
predileto é uma bola de futebol – por isso o nome. Neymar tem 9 anos e divide o
espaço com mais 40 cães. Chegou a ser adotado, mas voltou para o canil,
devolvido pela família. Após mais uma tentativa de adaptação com uma família
que não deu certo, a presidente da ONG tomou uma decisão. Neymar não está mais
disponível para adoção.
“Fizemos um teste saindo com ele, mas após nove
anos na ONG, ele ficou trêmulo e amedrontado. A casa dele é aqui. Neymar é
cuidado nesse lugar há anos, os laços dele são esses, vamos cuidar dele até o
fim”, conta Valéria, uma das voluntárias da ONG.
Neymar é vira-latas, e como as voluntárias da ONG
dizem, é “idosinho” e tem suas manias. No local, que é mantido com doações, o
cãozinho tem o espaço dele, brinquedos que só ele brinca, e apesar de conviver
bem com os demais, a ideia de colocá-lo para adoção era para que tivesse mais
espaço.
Hoje ele não é mais tão ativo nas brincadeiras com
os outros cães, gosta de ficar no canto dele, dentro da baia onde vive. A
presidente da ONG que cuida do cachorrinho desde o começo, diz que ele só
precisava de uma boa quantidade de amor e respeito, e que após muitas
tentativas de adaptação, é no abrigo que ele se sente bem.
Um lar para cães
abandonados
A presidente da ONG, Cleuza, mora sozinha em uma
edícula dentro do abrigo. Ela saiu do emprego para cuidar dos cachorros, junto
com Sueli, a amiga que fundou a instituição, falecida há alguns anos. Quando
ela morreu, Cleuza passou a cuidar de tudo sozinha:
“Teve um dia que eu não tinha dinheiro para comprar
comida nem pra mim e nem pra eles. Sentei nesse pátio no meio dos cachorros e
chorei, chorei muito. Choro só de lembrar desse dia. Perguntei para a Sueli por
que ela tinha me envolvido nessa causa, se eu não dava conta de cuidar. Foi aí
que eu lembrei de uma amiga que nos ajudou lá no começo, liguei para ela,
contei tudo, ela acionou outros voluntários e as doações nos salvaram”, relata,
emocionada.
Cleuza não tem renda nenhuma,
sobrevive das doações que a ONG Vira-Latas recebe: “Já deixei de comer para não
faltar comida para eles, esses dias eu estava com a água cortada, não podia
lavar nada. Tem dias que é desesperador, a gente não sabe como vai ser o dia de
amanhã, do que vamos viver”.
Hoje, a conta de água da ONG é de R$8 mil: “O
dinheiro que eu tenho é nosso. O que tem para a comida divido com eles, o
dinheiro para a luz, para a água, meu tempo e meu cuidado, tudo. Só sei que
eles precisam de mim e eu tenho que estar bem para cuidar deles”, conta.
Visita aos candidatos a tutores
Valéria é autônoma, mas o tempo livre que tem passa
todo em função da Vira-latas. É ela que faz as visitas às famílias que se
interessam em adotar os bichinhos: “Nós vamos conhecer o lugar e ver se a
pessoa tem espaço, se tem condições de cuidar. Às vezes é alguém que quer muito
adotar, mas já tem outros bichos e pode não ter como assumir mais um, apesar da
boa vontade” explica.
Fotos:
Jaqueline Naujorks
“Nós só
encaminhamos eles às famílias quando temos certeza que será o melhor para o
cachorro. Criamos um amor enorme por eles, e aqui temos certeza que estão bem
cuidados, queremos ter a mesma certeza quando eles vão embora”, declara.
Foi
Valéria quem avisou ao G1 que Neymar não está mais disponível para adoção. Para
a voluntária, o lar dos animais é onde há amor e cuidado. “Ele é feliz aqui.
Isso é o que importa para a gente, o bem estar real dos animais. Cleuza e
Neymar tem amor e confiança recíprocos, vão passar a velhice juntos”, finaliza.
Fonte: G1
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