Foto: House of Fluff
A London Fashion Week, realizada em
setembro, foi a primeira semana de moda no mundo a banir peles de animais.
Ativistas ficaram eufóricos.
Poucas semanas depois, Los Angeles
votou pelo banimento da produção e venda de pele na cidade, tornando-se a maior
cidade americana a tomar a iniciativa. Será que a pele animal – o material mais
controvertido da moda – finalmente está com seus dias contados?
Parece que sim. Casas de luxo têm
seguido a tendência de banir o material. A Burberry, gerenciada por Riccardo
Tisci, tomou a posição apenas um dia antes do evento londrino. Gucci, Michael
Kors, Tom Ford, John Galliano, Maison Margiela, Jimmy Choo e Versace o fizeram
nos últimos dois anos. Stella McCartney, rainha incontestável do luxo sustentável,
nunca trabalhou com peles.
Em junho, a gigante online de luxo
Yoox Net-a-Porter, que vende para alguns dos maiores clientes de pele, como a
China, anunciou que não venderá peles reais e cita o feedback de seus clientes
como argumento.
Substituir por sintético
Além disso, o CEO da Gucci, Marco
Bizzarri, questionou estudantes da London College of Fashion em outubro de
2017: “Você acha que usar peles hoje ainda é moderno?” E o próprio concluiu:
“Acho que não. E é por isso que não vamos mais aceitá-la”. Para uma indústria
que se orgulha de ser atenta a novas tendências, o pronunciamento de Bizzarri
foi uma sentença de morte para as peles de verdade.
Já era hora. Da captura selvagem aos
horrores do mercado chinês de peles, em que a retirada da pele do animal vivo é
parte do processo, nada na produção é simples. Filmes como Klatki revelaram as
vidas devastadas de animais em fazendas europeias de pele de animais.
“Usar pele de animal é imoral, cruel
e bárbaro – é uma indústria que se capitaliza com a morte”, diz uma campanha no
site de McCartney. Uma rápida olhada nos pequenos e traumatizados animais
mostrados em Klatki prova que ela não está exagerando.
Por que a moda está agora se
movimentando tão rápido para se distanciar da pele animal? “Cada vez mais, os
clientes esperam que as marcas demonstrem responsabilidade social,
sustentabilidade e respeito ao bem-estar animal; o movimento pelo banimento da
pele é parte deste pensamento”, afirma Wendy Higgins, diretora de mídia da ONG
Humane Society International.
“As pessoas não querem ver peles de
animais; elas passaram a simbolizar um egoísmo que eles não querem apoiar. Essa
percepção por designers como Gucci criou um efeito dominó.”
Nada disso surpreende Kym Canter,
ex-diretora criativa da glamurosa J Mendel, que é uma confessa ex-viciada em
pele e agora diretora de sua própria empresa de peles artificiais, House of
Fluff. “Eu troquei de time”, ela ri. “Alguns dos meus casacos favoritos eram
super glamurosos, mas um dia eu pensei, ‘isso é loucura, eu amo animais e estou
vestindo peças de vestuário que não combinam com a minha visão moral'”.
Mas descobrir alternativas estilosas
era uma tarefa complicada para Canter. E foi pela sua experiência no mercado de
luxo que ela decidiu produzir suas próprias peles artificiais. Seus casacos –
com estampas de “leopardo”, boleros macios de “cordeiros da Mongólia”, jaquetas
de “urso” – são incrivelmente luxuosos.
Luxo ético
Para Hannah Weiland, fundadora da
marca britânica Shrimps, que produz peles artificiais com cores vibrantes, o
padrão do novo falso é a chave para sua longevidade. “Quando lancei a marca em
2013, não havia nenhuma opção de alta qualidade”, ela lembra. “Assim que as
pessoas passaram a sentir a nossa pele artificial, elas ficaram impressionadas.
E isso contribuiu para combater a pele real”. Além disso, isto é moda feita
para durar. “Há casacos que você usará em várias estações, até passar adiante”,
diz Canter. “São produtos de luxo”.
De fato, são. Todas as novas casas de
luxo que baniram as peles de animais estão abraçando a causa com paixão,
elevando tanto os padrões de design quanto seus materiais. Os casacos largos e
peludos da MM6 Maison Margiela são um achado; assim como as peças da coleção
outono/inverno 2018 de McCartney.
E ninguém vai esquecer de Cara
Delevingne desfilando com uma capa arco-íris de pele artificial da Burberry, na
última performance do descolado diretor-criativo Christopher Bailey para a
coleção outono/inverno, em fevereiro.
Mas ativistas não podem descansar
ainda. Apesar de suas credenciais de respeito aos animais, as peles artificiais
são feitas de modacrílico, um derivado do petróleo e de sintéticos. Isto
significa que, como outros produtos a base de petróleo, ele polui o ambiente
durante sua produção, além de liberar microfibras durante a lavagem e de não
ser biodegradável.
O lobby pró-pele de animal toma
partido disso, citando a pele real como a única opção “realmente sustentável”.
Enquanto isso, consumidores ávidos
por fazer a coisa certa são deixados à deriva: peles artificiais para salvar os
animais ou peles reais para salvar o planeta? Fácil dizer, defende Higgins.
“Todos os materiais usados na moda têm algum impacto – isso incluindo a pele
animal”, ela ressalta.
“O impacto na produção de pele real
não pode ser descartado, já que vai desde as emissões de CO2 e o descarte do
esterco das fazendas ao coquetel de substâncias químicas usadas na limpeza e no
tingimento das peles. Elas estão longe de serem sustentáveis.”
“Não se distraia”, acrescenta Canter.
“Há muitos estudos mostrando que a pele animal é muito mais prejudicial ao
ambiente do que as artificiais. A indústria de pele tem um bilhão de dólares
para gastar em anúncios. Eles são espertos, eles estão preocupados e eles têm
várias pessoas construindo sua mensagem. Até agora, isso tem sido extremamente
eficiente.”
Ao mesmo tempo, os melhores designers
de peles artificiais estão se esforçando para ajudar o planeta. A marca de
Canter trabalha com materiais orgânicos e sustentáveis sempre que possível e produz
tudo localmente; seu provocante carro-chefe na Bowery de Nova York é feita a
partir de materiais reciclados. Os tecidos recicláveis de porta-vestidos são
produzidos por uma cooperativa de mulheres em El Salvador. Essa é a mesma
posição de Stella McCartney, cujos escritórios e fábricas consideram todos os
aspectos de impacto ambiental.
Para aqueles ainda inquietos com as
credenciais sustentáveis da peles artificiais, no entanto, opções estão
surgindo. Para a coleção outono/inverno 2018, os pioneiros sustentáveis
britânicos Vin & Omi terminaram seu show com um casaco largo e flexível
feito de lã polida e penteada de dez lhamas de estimação que ainda saltitam por
suas pequenas propriedades. “Queríamos incluir a lã crua, porque ela tem uma
suavidade incrível”, diz Omi. “E queríamos que o público apreciasse que a moda
de alta costura pode ser ecológica”.
E há biotecnologia sendo cada vez
mais usada para desenvolver alternativas sustentáveis para animais em
alimentos, moda e além, diz Mina Jugovic, do Centro de Moda Sustentável. Ela
cita como exemplo os colares de musgo vivo feitos pela estudante do London
College of Fashion Tara Baoth Mooney – “seus colares de musgo promovem o
conceito de ‘biomimética simbiótica” – e o trabalho de Ashleigh Chambers, que
está desenvolvendo peles artificiais biodegradáveis com uma nova fibra de
celulose criada de arbustos de rosa.
Enquanto isso, o designer Ingvar
Helgason, da empresa de peles criadas em laboratório BioFur, desenvolve
materiais a partir de células-tronco. Além disso, em resposta a alegações da
Federação International de Peles de Animais, pesquisadores do Instituto de
Peles Artificiais, fundado por Arnaud Brunois, estão desenvolvendo uma fibra em
que 40% de seus ingredientes são plantas.
A ideia é reduzir a dependência de
peles artificiais à base de petróleo, assim como aplicar métodos mais seguros
para reciclar o material e desenvolver formas de transformar os materiais
sintéticos em energia.
Em Nova York, Canter está trabalhando
com substâncias químicas para criar “uma pele artificial ainda mais
sustentável”. “No nível dos fios e do tecido”, diz ela, ansiosa. “Queremos ter
isso pronto para chegar ao mercado daqui a um ano. Estamos super comprometidos
com isso. O artificial pode ser feito de ingredientes que não agridam as
plantas e os animais – e estamos trabalhando nisso.
Fonte: G1
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