Uma postagem
feita na ANDA em abril de 2016 mudou para sempre a vida da cadelinha
Maria. Anteriormente chamada de Nina, ela foi salva por uma equipe montada pelo
protetor Armandinho Ferreiro, mas o que parecia um final feliz, foi o início de
uma longa batalha judicial.
Tudo começou com um apelo enviado à
equipe da ANDA através do faleconosco@anda.jor.br. O e-mail pedia ajuda na
divulgação de uma cadelinha que vivia em uma casa no município de Taboão da
Serra, Região Metropolitana de SP. Segundo a denúncia, o animal ficava a maior
parte do tempo sozinho e não era alimentado adequadamente.
O relato informava ainda que o então
tutor da cadelinha costumava chegar em casa embriagado e a agredia fisicamente
com chutes, além de ameaçá-la. Assim que a postagem foi ao ar, no dia 14 de
abril de 2016, e chegou ao conhecimento de Armandinho, que atua na causa animal
há mais de 15 anos na capital paulista, rapidamente foi realizada uma
mobilização para apurar a denúncia e resgatar a poodle.
Ao chegar ao local, o protetor
verificou que a cadelinha vivia em situação de maus-tratos, sem água ou comida.
Ela sobrevivia graças à compaixão de vizinhos. Segundo testemunhas, o tutor do
animal saia muito cedo e costumava chegar em casa tarde da noite, geralmente
bêbado, e maltratava a cachorrinha sempre que ela ia ao encontro dele para
recebê-lo.
A equipe de Armandinho decidiu que
esperaria o tutor da cadela chegar para conversar com ele e tentar entender o
que acontecia com Nina, mas um morador do local defendeu o homem e suas
atitudes e ameaçou desaparecer com a cadela se a investigação continuasse.
Temendo pela segurança da cachorra,
Armandinho soube que precisava fazer algo antes de ser tarde demais e assim
atraiu a cadelinha até a grade do portão e a retirou do imóvel sem invadi-lo. A
operação de salvamento foi filmada pelo então vizinho, que bradava ameaças.
Desde o primeiro minuto de resgate,
assim que entrou no carro dos protetores, Nina já demonstrou grande felicidade
e pareceu compreender que a partir dali teria a chance de conhecer outra vida.
Ela foi levada para a cidade de São Paulo e recebeu uma avaliação veterinária
completa.
A poodle foi atendida por uma médica
veterinária especialista em comportamento animal que a submeteu a inúmeros
testes. Os resultados apontaram que Nina tinha muito medo de vozes altas e
alguns objetos. O laudo técnico emitido pela profissional apontou que a cadela
era claramente vítima de maus-tratos, tantos físicos quanto psicológicos.
Após reunir provas e comprovar que o
resgate da cadela foi necessário para a preservação da integridade do animal,
Armandinho se dirigiu até uma delegacia de Taboão da Serra para oficializar a
denúncia. Ele foi atendido pelo delegado titular de plantão, que não só ignorou
todas as jurisprudências apresentadas, como informou ao protetor que um Boletim
de Ocorrência havia sido realizado pelo tutor do animal e que o caso estava sendo
investigado como furto qualificado. Houve também a insinuação que os protetores
que salvaram Nina poderiam responder por formação de quadrilha.
Desde então uma clima de apressão se
instaurou na vida dos protetores. O delegado se recusou a reconhecer os maus-tratos
e deu prosseguimento à denúncia de furto. A promotora escolhida para o caso
aceitou a denúncia e levou o caso à Justiça. O juiz escolhido também aceitou a
denúncia e os protetores foram intimados, prestaram depoimentos e tiveram que
reunir recursos para montar a defesa. O maior receio era que fosse determinado
que a cadelinha voltasse à guarda do antigo tutor.
Após dois anos de processos
judiciários burocráticos, finalmente foi realizada a audiência no dia 26 de
setembro de 2018. A médica veterinária que avaliou a cadelinha e uma vizinha
testemunharam sobre a situação da Nina. Outras pessoas que poderiam ter ajudado
a cachorra com seus depoimentos se recusaram a testemunhar, mas felizmente tudo
correu bem.
Diante de todas as provas e relatos,
a promotora de Justiça optou por abrir mão da denúncia. Armandinho e os outros
protetores esclareceram que a única intenção do grupo foi salvar a cadela e
cessar os maus-tratos. Eles explicaram que não tiveram nenhum benefício com a
ação e que o bem-estar do animal estava acima de qualquer interesse humano
naquele caso.
Após a sentença de absolvição, muitos
dos que estavam presentes na audiência choraram e se emocionaram com a história
da Nina. Em entrevista à ANDA, Armandinho afirma que esse caso abre um
importante precedente para o reconhecimento dos direitos animais. “Essa
absolvição, muito além de ter sido feita para nós, para mim, ela significa que
os animais estão conquistando direitos e espaço no meio jurídico”, contou. E
completa: “Me senti aliviado e feliz pelos animais terem conquistado esse espaço”.
Após o resgate, Nina recebeu lar
temporário e foi adotada por uma pessoa muito especial. Ela deixou seu passado
de lado e hoje se chama Maria. Armandinho explica que sabe que a cadelinha hoje
é feliz e livre da maldade humana dá uma verdadeira sensação de dever cumprido.
“Esse resultado é o que me dá forças para não desistir em uma causa tão
difícil”, conclui.
Fotos: arquivo pessoal
Fonte: anda.jor.br
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