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quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Protetora e animais em abrigo sofrem com perseguições em Santo Amaro da Imperatriz, SC



O dia a dia de um protetor de animais não é fácil. Demanda dedicação, tempo, dinheiro. Envolve abdicar do individualismo e agir com altruísmo. Katia Pimentel é um exemplo disso.

Protetora desde 2002, a professora mudou-se para Florianópolis, SC, com seus quatro cães, e logo já eram onze. A crueldade que ela via no bairro dos Ingleses não a deixava virar as costas, e isso a tornou vulnerável aos que queriam “descartar” um animal. Cães abandonados no portão de casa, arremessados para dentro. Com os latidos, Katia foi denunciada, multada pela Prefeitura e perseguida por vizinhos durante sete anos, até que resolveu se mudar para uma área rural de Santo Amaro da Imperatriz, onde poderia viver em paz e ajudar os animais resgatados.

O sítio foi todo estruturado para os cães viverem com bastante espaço, seguindo as leis vigentes, mas antes mesmo de se mudar, novas perseguições: um vizinho derrubou uma parede, órgãos de fiscalização chegavam, cada vez mais exigências. A obra foi embargada e, por um ano e meio, Katia morou de aluguel enquanto lidava com as demandas da Prefeitura e da Polícia Ambiental. Mesmo dentro da lei, foi preciso pedir e insistir para conseguir o alvará e, finalmente, se mudar.

Até então os vizinhos próximos só apareciam por lá aos finais de semana. Foi quando o dono dos terrenos ao lado do sítio vendeu dois deles. O pesadelo de Katia estava só começando. A nova vizinha aterrou parte da cerca do sítio com a construção da casa, e por mais que Katia avisasse do risco dos cães pularem, nada adiantou. Veio a chuva e o barro enterrou a cerca, forçando a protetora a refazê-la.

No dia em que se mudou, Claudia (nome fictício) fez um churrasco e as crianças chutando bolas na cerca provocaram os latidos dos cães, que não tinha como Katia controlar. Isso fez com que a protetora fosse denunciada não só pelos latidos, mas por seus cães ameaçarem os filhos da vizinha. Katia teve que construir uma nova cerca a vinte metros de distância do limite do terreno até para que os cães não ficassem sujeitos a alguma agressão.

Passada uma semana, Claudia deu um rodo para cada filho e ordenou que batessem na cerca e gritassem a noite, enquanto ela filmava, provocando mais latidos. Katia fez boletim de ocorrência por perturbação, sem nenhum resultado. Por quase um ano ouviu gritos, xingamentos, ameaças, que chegou a gravar em áudio. Seus cães eram frequentemente levados ao estresse quando a vizinha, já de madrugada, encostava o carro na cerca, ligava o pisca-alerta buzinava e colocava música alta, para que os latidos, ainda mais altos incomodassem outros vizinhos e a indispusesse com eles. A vizinha então começou um abaixo-assinado para que a protetora se mudasse de lá, “sem obter assinaturas de vizinhos próximos, apenas de amigos e conhecidos que moram longe dali”, diz Katia.
Após a denúncia, Katia recebeu visitas da Vigilância Sanitária, da Polícia Ambiental e da fiscalização ambiental da Prefeitura, e nada irregular foi encontrado. A vizinha tinha ido longe demais, era um peso maior do que Katia poderia suportar. Sem outros apoios e após um grave erro da sua advogada voluntária, ela contratou dois outros advogados.
Katia afirma que algumas medidas do Poder Público revelam claramente que ela vêm sendo perseguida. Por exemplo, as obras do seu canil chegaram a ser embargadas por um ano e meio sob a alegação de que ele ficava muito próximo de um pequeno curso de água. A protetora demoliu o canil e o reconstruiu, atendendo a todas as exigências. O prejuízo financeiro foi enorme, ela teve que pedir empréstimos que paga até hoje, dinheiro que poderia estar sendo destinado aos animais. Tempos depois, uma casa foi construída numa área igualmente próxima do riacho sem que, no entanto, houvesse qualquer embargo. E a casa da própria vizinha que tem reclamado também fica em área próxima desse córrego sem que as autoridades a importunem por isso.
Katia diz que a zona rural têm problemas ainda piores em relação à cidade. Nas proximidades do sítio, cães são descartados como coisas em lixeiras comunitárias. Ela afirma que chegou a solicitar à Prefeitura que ao menos estes pontos fossem iluminados, mas que lhe responderam não ser possível nem a iluminação e nem providências sobre o abandono de animais. “Santo Amaro da Imperatriz não tem qualquer programa de controle populacional de cães e gatos”, diz a ativista.
O Ministério Público ofereceu denúncia à protetora por não impedir o barulho produzido pelos cães, estranhamente propondo que ela seja proibida de frequentar bares e boates, compareça em juízo todo mês para justificar suas atividades e não deixe de se apresentar a comarca por mais de oito dias. Ela recorreu e espera nova audiência.
Histórias como a de Katia não são incomuns. Infelizmente, pessoas que se dedicam a dar esperança para animais negligenciados, vítimas de maus-tratos e abandonados passam por situações como essa diariamente. Ela não é uma acumuladora; já doou cerca de setecentos animais, divulga em redes sociais, sites de ONG’s, feiras de adoção e em Florianópolis sua atuação era reconhecida pela comunidade e alvo de matérias positivas na imprensa. A tentativa dessas pessoas de preencher o descaso de órgãos públicos nesse assunto é ainda mais dificultada pela comunidade que não só deixa de agir, mas impede os que tentam, mesmo diante de tantos obstáculos.
Por Juliana Ribeiro
Fonte: Olhar Animal ( fotos: arquivo pessoal )


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