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segunda-feira, 16 de novembro de 2009

São Paulo contra matança de vacas


São Paulo, 11 de novembro de 2009

Senhores

É de conhecimento público que o sr. Zolani Mkivi, um dos responsáveis pela coordenação das atividades culturais previstas para a Copa de 2010, tenciona sacrificar vacas nas portas dos estádios de toda a África do Sul, em nome dos antepassados.
Em face dessa notícia, as entidades ambientalistas e de proteção animal brasileiras, congregadas no Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, vêm apresentar seu veemente repúdio contra o que consideram amplamente questionável: o sofrimento inútil de animais. Some-se, ainda o constrangimento moral imposto aos povos de culturas diferentes, com o agravante de se macular um cenário para o qual estariam previstas somente atividades saudáveis e a beleza do esporte.
Nós, componentes desse órgão colegiado, entendemos a possibilidade de causar estranheza a atitude de ativistas de um país reconhecido como o maior exportador bovino do mundo, ao se importarem com a vida de algumas vacas. A nossa posição, entretanto, se baseia em algumas premissas:
-o fato do Brasil privilegiar a atividade pecuária não significa que a maior parte de sua população concorde com essa agenda econômica, totalmente oposta à ambiental;
-se o ato de matar, em si, é algo abjeto, a morte inútil é inaceitável;
-toda a forma de vida deve ser respeitada;
-a humanidade passa por um processo civilizatório e se encontra num estágio em que não há espaço para a banalização da violência.
A “cerimônia religiosa” pretendida pelo sr, Mkivi pode persistir, mesmo anacrônica, na sua própria cultura, mas esse senhor, na qualidade de anfitrião, deveria ser mais cuidadoso, evitando chocar as demais sociedades participantes do grande evento que vai ser a Copa de 2010.

Esperamos que nossa posição não seja confundida com intolerância religiosa. O fato é que existem certas reações humanas que, inegavelmente, são legítimas. A exemplo, o repúdio ao assassinato é algo que não se discute. Do mesmo modo, o estupro e canibalismo, que fizeram parte de hábitos culturais de povos antigos, são vistos com horror pelos atuais e, apesar das civilizações pré-colombianas terem sido adeptas de sacrifícios de seres humanos, estes, certamente seriam punidos rigidamente caso algum país latino-americano decidisse “retornar às raízes” e reabrir as portas dos templos incas.
No que diz respeito aos direitos dos animais, é necessário estabelecer um consenso sobre o que é ou não é razoável, sobre os princípios éticos e morais que devem nortear o comportamento humano em relação a eles. A nós, defensores dos animais, resta a tarefa de colocar o assunto em pauta sem ferir egos e peculiaridades culturais.
Acreditamos, porém, que da mesma forma como os direitos humanos se ampliaram ao longo do tempo; que as mulheres passaram a ser reconhecidas como detentoras de igualdade em relação aos homens (embora algumas nações ainda lhes neguem essa condição); e que as discriminações com base em critérios étnicos e/ou sociais foram relegadas ao lixo da História, os animais também se firmarão como possuidores de direitos fundamentais. Aliás, muitos países já reconhecem esse fato. Existe a Declaração Universal dos Direitos dos Animais, proclamada pela UNESCO (Bruxelas. 1978),da qual, vale mencionar, a África do Sul é signatária.
Outrossim, na atualidade, os cientistas já reconhecem os animais como seres sencientes, isto é, capazes de sentir. Além de sentirem as sensações básicas como fome, sede, frio, dor, sentem também emoções como alegria, tristeza, medo, pânico... A senciência dos animais já é reconhecida pelo Conselho Europeu.
Como se vê, o ritual pretendido pelo sr. Mkivi desrespeita princípios já admitidos pela nossa civilização, bem como o compromisso ético assumido pela própria África do Sul, que ao lado de trinta países (entre eles o Brasil), assinou a Declaração supracitada.
Finalizando, os grupos defensores dos animais, aqui representados, expressam sua esperança de que o país aproveite a Copa de 2010 para mostrar tudo o que de bom existe na África do Sul, seus atrativos turísticos, suas belezas naturais, a simpatia e o valor do seu povo, e sobretudo a sua capacidade de organização de um evento ansiosamente aguardado pelo mundo.



Respeitosamente, se despedem.
Sônia Fonseca
Presidente
O programa Mundo Animal da radio jornal AM 710 e da TV maceio canal 2 da Jet e os blogs do maceioagora.com.br e vicosanet.com estão solidários a Sonia Fonseca

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