domingo, 15 de novembro de 2009
A carne das fazendas americanas é imoral
"A carne das fazendas americanas é imoral"
Em seu novo livro, o escritor vegetariano intima o leitor a assumir sua responsabilidade sobre a matança cruel de animais confinados
FRANCINE LIMA
O menino Jonathan Safran Foer tinha 9 anos quando se deu conta de que o frango servido com cenouras em seu prato, receita favorita preparada por sua avó judia que sobrevivera ao nazismo, era feito de uma ave que dias antes estava viva. A revelação, feita por uma babá vegetariana, transformou sua maneira de encarar a comida. De lá para cá, Foer virou vegetariano e voltou a comer carne várias vezes, por vários motivos – do princípio ético ao desejo por belas garotas engajadas na proteção dos animais. A gangorra alimentar parou quando, perto dos 30 anos e já autor de um best-seller premiado, ele se tornou pai. Ele não queria que as memórias alimentares que seus filhos carregariam por toda a vida tivessem o mesmo sabor animal das suas. Foer resolveu então abandonar a carne em definitivo e começou a escrever sobre o assunto. Seu exercício filosófico resultou no livro Eating animals, recém-lançado nos Estados Unidos e ainda sem tradução para o português.
Para os americanos, como para os brasileiros, comer carne é uma paixão. Só em 2009, de acordo com Foer, eles digeriram 12 milhões de toneladas de carne de vaca, além de porco e aves em quantidades igualmente gigantescas. Mas a criação do gado americano é diferente da nossa. “As fazendas de gado brasileiras não são como as americanas”, disse Foer a ÉPOCA. “Os animais aí ainda pastam, ainda são criados de maneiras que a maioria das pessoas aceitaria.” Lá, não. A criação intensiva de animais e seu abate industrial são descritos no livro de modo nauseante. Entre as descrições mais impressionantes de suas visitas às fazendas está o confinamento de perus numa granja forrada com camadas sobre camadas de fezes acumuladas, em que os gases de amônia causam feridas na pele e nos pulmões das aves. Ou o “caldo fecal” em que frangos são mergulhados antes do abate para engolir água (suja) e ficar mais pesados – prática que seria uma das causas dos crescentes casos de contaminação pela bactéria Escherichia coli. São condições de vida que, diz Foer, seriam consideradas ilegais se aplicadas a cães ou gatos. Segundo seu relato, os animais das fazendas americanas consomem quase dez vezes mais antibióticos que os seres humanos. Em alguns momentos, o leitor pode pensar em parar de comer carne não por amor aos animais, mas por nojo e medo de adoecer.
"As fazendas de gado tratam os animais de maneiras
que seriam ilegais se fossem aplicadas a cães ou gatos"
Fonte: Globo.com
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