O santuário alagoano dos peixes-boi-marinhos aguarda, assim como toda a comunidade científica e sociedade em geral, saber as reais causas das mortes dos animais Netuno, 34 anos, e Paty, 11 anos.
A preocupação recai ainda sobre a recuperação da saúde de Assu, peixe-boi que segue em recuperação em Itamaracá, Pernambuco, para onde foi levado em busca de cuidados específicos.
O peixe-boi continua na lista de espécies ameaçadas de extinção. Até 2018 se encontrava na categoria em perigo, contudo, na última avaliação realizada foi novamente listado como criticamente ameaçado de extinção.
Os óbitos e o adoecimento dos animais foram um balde de água fria jogado sobre os ambientalistas que estavam ainda comemorando a soltura de mais de 50 peixes-boi-marinhos no litoral brasileiro nas últimas três décadas. Boa parte dessa comemoração aconteceu em Alagoas, na Região Norte, mais precisamente no Rio Tatuamunha, em Porto de Pedras, onde fica localizado o santuário desses animais, uma das espécies marinhas mais ameaçadas de extinção no Brasil.
As equipes do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) estão levantando todos os indícios. “Amostras de ambiente, da alimentação, coletadas durante as necropsias dos animais foram enviadas a diferentes laboratórios e o CMA (Centro de Pesquisa e Conservação dos Mamíferos Aquáticos) aguarda os resultados destas análises. Até o momento apenas resultados parciais de amostras de água do Rio Tatuamunha estão de posse do órgão e serão anexados a todo o processo investigativo”, detalhou o Instituto.
Ainda conforme a entidade, o peixe-boi Assu, transferido para o Cras (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres) do CMA na Ilha de Itamaracá, continua em tratamento nos oceanários e ainda exige cuidados veterinários. A equipe do ICMBio segue realizando monitoramento na condição do animal.
“Em toda a região denominada de Rota Ecológica dos Milagres que abrange municípios do Litoral Norte (Passo de Camaragibe, São Miguel dos Milagres e Porto de Pedras) existem peixes-boi reintroduzidos. Existem também animais nativos no município de Paripueira”.
Em outubro do ano passado, houve outra celebração para marcar os 30 anos da soltura do peixe-boi Astro, o primeiro a ser devolvido à natureza na cidade de Porto de Pedras, onde nasceram 21 filhotes nas últimas três décadas, todos frutos de animais reintroduzidos.
O trabalho foi iniciado em 1994 quando, além de Astro, Lua foi reintroduzida ao habitat. Quando reinseridos, os peixes-boi passam a conviver em ambientes de estuário, praias e manguezais.
Afinal, quantos peixes-boi há registrados em Alagoas? Conforme o ICMBio, atualmente, esta informação não é precisa, pois não existem estimativas populacionais mais recentes. Em Alagoas, de 1994 a 2022, foram liberados na natureza 38 peixes-boi.
“Atualmente não existe uma contagem dos peixes-boi que frequentam o litoral de Alagoas. Alguns indivíduos, após serem liberados na natureza, estabelecem sítios de fidelidade, enquanto outros se deslocam para outras áreas”, detalhou o órgão.
Todo esse processo traz para o trabalho de conservação uma das ações mais desejadas, que é a soltura desses animais e, sobretudo, vê-los adaptados às condições de vida livre, interagindo com outros peixes-bois-marinhos.
Ainda conforme o ICMBio, dentro do protocolo estabelecido pelo Programa de Soltura de peixes-boi da entidade, o monitoramento pós-soltura deve ser mais intenso até um ano que o animal é liberado. O acompanhamento é realizado por equipamento de radiotelemetria. Após esse período, se não for necessária nenhuma intervenção das equipes, é avaliado como um caso de sucesso, sendo considerado um animal adaptado ao ambiente natural, sendo observado esporadicamente.
Mortes abalaram Centro de Conservação em Alagoas
O Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Aquáticos (CMA/ICMBio), localizado em Porto de Pedras, no Litoral Norte de Alagoas, enfrenta uma grave crise após as mortes dos dois peixes-boi-marinhos, registrada no dia 27 de agosto deste ano.
Embora a causa oficial das mortes ainda não tenha sido confirmada, investigações preliminares apontam para uma possível contaminação ambiental, possivelmente relacionada à poluição química da água que abastece o recinto. Como medida de precaução, todas as atividades na base de Porto de Pedras foram suspensas temporariamente na ocasião, enquanto as autoridades investigam a situação.
A notícia gerou comoção entre pesquisadores, ambientalistas e a comunidade local. A base de Porto de Pedras desempenha um papel crucial no programa nacional de conservação do peixe-boi-marinho, uma espécie ameaçada de extinção. Desde sua criação, o centro foi responsável por 38 das 50 solturas realizadas pelo Governo Federal no Brasil e registrou 20 nascimentos em cativeiro, resultados significativos no esforço de recuperação da população de peixes-boi no litoral brasileiro.
Apesar do impacto emocional, os responsáveis pelo programa reforçam o compromisso com a preservação da espécie. Em nota oficial, afirmam: “cada vida salva, cada soltura bem-sucedida representa um avanço na luta pela preservação do peixe-boi-marinho. Reforçamos nosso compromisso com a transparência e com o bem-estar dos animais sob nossos cuidados. Novas informações serão divulgadas à medida que os resultados das análises forem concluídos.”
O Instituto Biota, parceiro nas ações de proteção dos mamíferos aquáticos em Alagoas, também está acompanhando o caso e colaborando nas investigações. O biólogo Eduardo Macedo, do CMA/ICMBio, explicou que as mortes ainda não têm relação com a morte de três filhotes de peixes-boi que encalharam mortos em janeiro deste ano na Praia de Riacho Doce, no litoral norte de Maceió.
“É cedo para indicar alguma causa das mortes em Porto de Pedras. A primeira fase é a realização das análises da água do rio. Vamos investigar diversos potenciais contaminantes. Também temos a necropsia e os exames clínicos de sangue. Quando os resultados saírem, acreditamos que teremos um norte para chegar às possíveis causas”, afirmou Macedo, destacando que não há ligação com as mortes dos filhotes registrados no início do ano.
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