À medida em que o Ártico esquenta em razão das mudanças climáticas, crescem também os riscos de ursos-polares contraírem vírus, bactérias e parasitas. Isso acontece em um nível maior do que há 30 anos, segundo revelou uma nova pesquisa, publicada na quarta-feira (23) na revista científica PLOS ONE.
Os pesquisadores analisaram amostras de sangue e fezes coletadas entre 2008 e 2017, de 232 ursos que viviam na região do Mar de Chukchi, entre o Alasca (EUA) e a Rússia. Depois, compararam com os resultados de uma pesquisa anterior, cujos dados datam de 1987 a 1994, e correspondem a uma amostragem de 115 ursos.
A equipe encontrou nas amostras de sangue seis patógenos associados principalmente a animais terrestres, mas que já foram registrados em animais marinhos, incluindo espécies que os ursos polares caçam.
A perda de gelo marinho fez com que os ursos-polares passassem a vagar mais pela terra. Nesses espaços, os animais foram mais expostos a humanos e ao seu lixo. “Queríamos entender se esse contato prolongado com microrganismos também havia afetado a saúde dos ursos”, explica Karyn Rode, coautora do projeto, à BBC.
Maior incidência de patógenos
“O aquecimento global, além de comprometer o frio típico das extremidades do globo, também faz com que os patógenos conseguissem sobreviver em ambientes onde não eram capazes de prosperar antes”, relata Rode, ao portal ScienceNews. “Hoje, esses micróbios estão migrando para o norte do planeta, para as áreas de alcance dos ursos-polares”.
A presença de anticorpos nas fezes e sangue foi o que atestou a sua incidência nos organismos dos ursos. Dos seis patógenos testados, cinco mostraram-se recorrentes entre a população: dois parasitas que causam toxoplasmose e neosporose; dois tipos de bactérias que causam febre do coelho e brucelose; e o vírus que causa cinomose.
Em alguns casos, como em relação ao parasita Neosporum caninum e à bactéria causadora das doenças brucelose e tularemia, a sua ocorrência pelo menos dobrou desde a década de 1990. Da mesma forma, os ursos estudados recentemente apresentavam anticorpos contra o parasita Toxoplasma gondii. Esses anticorpos se tornaram quase sete vezes mais presentes: antes, cerca de 2% dos ursos analisados tinha. Agora, 14% do grupo possui.
Cadeia alimentar em perigo
Ao comparar as proporções de marcadores químicos relacionados à dieta nos pelos dos ursos, a equipe descobriu que a presença dos patógenos variava em relação às suas dietas específicas. “[Os ursos] provavelmente não são a única espécie que tem maior exposição a esses patógenos”, diz Rode. “É dentro da cadeia alimentar que isso aumentou.”
Ela observa que, nos últimos anos, focas aneladas, uma das principais presas dos ursos polares, morreram em grande número devido a uma doença desconhecida. Isso acendeu um alerta vermelho aos pesquisadores sobre a necessidade de avaliar a cadeia alimentar como um todo.
No mais, tal fato sugere que até os seres humanos correm riscos, uma vez que alguns ursos polares são comidos por humanos por meio da caça de subsistência. Para Rode, no entanto, essa é uma discussão que ainda precisa ser investigada mais a fundo por novos estudos.
Fonte: Um Só Planeta
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