Foto: Divulgação
Desde que se tornou vegana, em 2018, Xuxa não mede esforços para promover a causa. A apresentadora de 61 anos, que usa sua visibilidade para defender a causa animal, agora é narradora do curta-metragem de animação Santuário, inspirado na história real do resgate das porcas Marias e da vaca Indigo. As primeiras foram salvas após um acidente com o caminhão que as transportava no Rodoanel em São Paulo, enquanto a segunda foi retirada com sua mãe logo após seu nascimento de um frigorífico nos Estados Unidos. Atualmente, elas vivem em santuários.
“É um filme muito interessante. E não é só para a galera que é vegana. É uma mensagem muito bacana para todas as idades”, comentou a apresentadora sobre o curta, lançado em quatro línguas e disponível no canal do YouTube da Geração Vegana.
Xuxa falou sobre o que motivou ela a aderir ao veganismo, os impactos dessa alimentação em sua saúde, e o preço que paga por se posicionar de forma enfática contra o consumo de carne: os constantes ataques e críticas que recebe nas redes sociais
Você foi vegetariana por muitos anos. Qual foi a virada de chave na sua vida para virar vegana?
Eu fui macrobiótica, vegetariana, naturalista… Desde os 13 anos de idade, passei por várias fases até achar o veganismo. O Ju (Junno Andrade, seu marido) me apresentou um documentário chamado Terráqueos. Isso foi no dia 8 de janeiro de 2018. Assim que ele me apresentou, eu já virei vegana e estamos eu e ele até hoje.
Quais os benefícios que sentiu em sua saúde?
A princípio, senti o impacto na minha pele. Depois senti o meu ânimo melhorar: Estava com mais saúde para andar. Fora isso, os meus exames de sangue raramente têm algo fora do normal. O que nós veganos precisamos repor é vitamina B12. Ou seja, é muito pouco ter que repor apenas uma vitamina. Vejo pessoas que não têm a dieta à base de plantas e têm que repor tantas coisas… Eu felizmente só tenho que repor B12.
Sentiu algum impacto na vida social ao se tornar vegana?
Não tenho uma vida social muito grande, acho que impacta mais as pessoas a minha volta. Como sou uma pessoa pública, as pessoas querem me agradar e ficam sem saber o que fazer. “Poxa vida, ela é vegana, o que a gente faz?”. Respondo: “Como feijão, arroz, batata frita, legumes e verduras… Só tiro o sofrimento do meu prato”. Qualquer lugar tem opção vegana. É só tirar o defunto e o sofrimento do animalzinho. Tudo o que resta é vegano. Me alimento com muitas frutas, legumes, verduras, todos os tipos de grãos e cereais. Então, não encontro problema.
Quanto tempo levou o processo para você se assumir vegana publicamente?
Parei de comer carne vermelha com 13 anos, o ovo com 14 anos, entre 24 e 25 anos deixei de comer frango e o peixe só depois que virei vegana. Comia peixe de uma a duas vezes por semana até entrar para o veganismo. Além disso, já me fazia muito mal comer queijoou qualquer coisa que tivesse leite porque tenho problema de intolerância à lactose. Então, não foi difícil para mim. O caminho era esse naturalmente. Eu já comia forçadamente o peixe porque por ignorância achava que a proteína só podia vir do animal.
Muitas pessoas e até profissionais da saúde têm esse pensamento…
Vi que estava no caminho errado quando descobri que os próprios animais se alimentavam de proteína vegetal, que se impregnava no tecido deles e depois a gente terceirizava, se alimentando desta proteína por meio do animal. Usar a proteína animal e alimentação à base de vegetais era o que eu mais precisava, principalmente pela paixão que eu sempre tive pelos animais. Tanto é que sempre quis ser veterinária. Não tem como você dizer que ama bicho, se você come bicho. Não consigo escolher espécies para amar e espécies para me alimentar. Colocar o sofrimento do animal dentro de você, se alimentar de um animal morto, é cultura e costume que as pessoas vão poder escolher seguir ou não. Elas vão poder seguir o caminho de se alimentar com menos exploração animal, sofrimento, desinformação e alimentos que trazem muitas doenças para a gente. Acho que o caminho é esse até para a proteção do meio ambiente. Se 80% da Amazônia é desmatada para alimentar os bois, o caminho é se alimentar cada vez menos dos animais e salvar o nosso verde. Virar vegetariano é um grande caminho, já virar vegano é um sonho.
Muitos vegetarianos e veganos são atacados. Você também sofreu ataques quando se assumiu vegana?
Ainda recebo muitos ataques. Tem pessoas que acho que elas não conseguem raciocinar ou aceitar que a gente erra. Hoje sou vegana, mas tem pouquíssimo tempo isso. Fomos acostumados a ir a um aniversário e comemorar com churrasco, ainda mais no meu caso, que vim do Sul. No Natal é, “vamos fazer um peru para celebrar a vida”. Não é visto como um animal morto na mesa, é passado como algo bacana para se celebrar a vida. Sempre tem um animal morto em uma comemoração e isso é tido como normal. Quando verbalizo isso, sou muito atacada. Tento me colocar no lugar das pessoas que não entendem que dá para viver sem isso. Já fiz muita coisa errada e a gente não aceitar que a gente faz parte desta engrenagem de exploração, que machuca e trata os animais como uma coisa e não como um ser que tem sentimento. As pessoas para se protegerem me atacam até hoje. Entendo que eu falar que “comer bicho é comer defunto” ofenda algumas pessoas, mas se eu não falar desta forma talvez a mensagem não chegue para algumas pessoas.
As pessoas se sentem atacadas?
Elas atacam como uma forma de dizer, “não sou assassino”, “não faço parte disso”. Mas a gente faz. Fui uma das pessoas que mais incentivou a usar botar de couro. Fiz parte desta engrenagem por muito tempo. Se alguém viesse me falar que aquilo não era certo, eu ia me proteger. Muitas vezes para a gente se proteger, a gente ataca as pessoas. É isso que algumas pessoas fazem quando me atacam. A verdade, que a gente não quer ouvir, incomoda. É bater no estômago, mostrar o que existe por trás da máfia da carne, dessa engrenagem da indústria pecuária e farmacêutica, dessas pandemias todas que existem por aí… Isso incomoda muita gente e vai continuar incomodando.
Você sempre teve um trabalho de estimular alimentação saudável para o público infantil por meio de músicas e conselhos. Quais os desafios sente para propagar o veganismo para o público infantil hoje em dia?
Tenho que falar com os pais e esses pais muitas vezes não querem ouvir. Para eu falar com a criança, tenho que falar com outra linguagem, não posso ser agressiva. Eu apenas gostaria que esses pais explicassem para as crianças o que elas estão comendo, sabe? Você está explicando que ela está comendo uma Galinha Pintadinha, que ela está comendo um Nemo? Eles não sabem do sofrimento que tem por trás de uma carninha e de um franguinho. Quem faz o prato das crianças são os pais. Então, os pais têm que ser conscientizados. Eles não deveriam dar animais mortos para as crianças comerem. Elas que deveriam decidir quando adultos se querem ou não comer. Mas existem pessoas que acreditam que a carne cheia de sofrimento e antibióticos é saudável. Para ter uma dieta saudável, tem que tirar o animal do seu prato. Mas futuramente as pessoas vão enxergar isso. A informação está chegando de uma maneira ou de outro, por meio de livro, música, reportagem, documentários e desenhos animados. Acho que naturalmente vão diminuir mais o consumo de animais e as opções veganas vão estar cada vez mais presentes em todos os lugares. O futuro é vegano.
Fonte: Quem
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