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terça-feira, 17 de setembro de 2024

Caçadores brasileiros publicaram no Facebook a morte de 4.658 animais em três anos

 

Foto: ilustração
Cientistas encontraram mais de dois mil eventos de caça no Brasil publicados em cinco grupos sobre o assunto no Facebook entre 2018 e 2020. Os registros indicavam acontecimentos em todos os Estados e biomas do país, envolvendo mais de 1.400 caçadores. A pesquisa identificou 4.658 animais abatidos ilegalmente, incluindo indivíduos de espécies ameaçadas de extinção.

Para se obter estes dados, os pesquisadores realizaram a busca por palavras-chave no Facebook, utilizando “caça” e “Brasil” como pontos de seleção. Os cinco primeiros grupos que apareceram foram objetos de análise. A busca por palavra-chave já direciona para os grupos com maior número de membros e movimentações relevantes. Os cinco grupos listados foram criados entre os anos de 2018 e 2020.

Na etapa seguinte, eles analisaram todas as postagens, identificando os animais abatidos e contabilizando os que seriam para consumo. A estimativa é de que tenham sido extraídas cerca de 30 toneladas de carne silvestre.

Espécies nativas de fauna mais visadas

De acordo com o estudo, foram reconhecidas 157 espécies de animais silvestres nesses grupos. Os animais mais caçados são paca (Cuniculus paca), pomba-avoante (Zenaida auriculata),  pomba-asa-branca (Patagioenas picazuro) e tatu-galinha (Dasypus novemcinctus). Do total de espécies identificadas, 19 esãto ameaçadas de extinção, como cateto (Pecari tajacu), queixada (Tayassu pecari), anta (Tapirus terrestris), cujubi (Aburria cujubi), jacutinga (Aburria jacutinga), mutum-de-penacho (Crax fasciolata), jacu-de-barriga-castanha (Penelope ochrogaster), jacupiranga (Penelope pileata), coandu-mirim (Coendou speratus) e jabuti-tinga (Chelonoidis denticulatus).

O bioma onde ocorreram mais eventos de caça foi a Amazônia, contabilizando 707 eventos, seguida pela Mata Atlântica, com 688, Cerrado-Pantanal, com 387, Caatinga, com 161, e Pampa, com 103.

As espécies mais caçadas por bioma foram:

  • Amazônia: mutum-cavalo (Pauxi tuberosa), paca (Cuniculus paca) e jacaretinga (Caiman crocodilus).
  • Mata Atlântica: pomba-asa-branca (Patagioenas picazuro), paca (Cuniculus paca) e teiú (Salvator merianae).
  • Cerrado e Pantanal: pomba-avoante (Zenaida auriculata), paca (Cuniculus paca) e jacaretinga (Caiman crocodilus).
  • Caatinga: pomba-avoante ou ribaçã (Zenaida auriculata), mocó (Kerodon rupestris) e teiú (Salvator merianae).
  • Pampa: marrecão (Netta peposaca), capivara (Hydrochoerus hydrochaeris) e jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris).

Autor principal do artigo, o biólogo brasileiro e pesquisador do Center for International Forestry Research (Cifor-Icraf (Indonésia) e Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (Brasil), Hani El Bizri, afirmou que somente a fiscalização ambiental, da forma como está hoje, não é efetiva para coibir a caça de espécies silvestres.

“É necessário pensar em uma gama de ações conjuntas. O que não se pode é deixar como está. A caça é um grande gargalo para a sobrevivência de espécies, principalmente as que já são consideradas em extinção”, completou.

O número levantado é considerado bem inferior ao que acontece na realidade, já que foi um recorte de uma única rede social e envolveu somente os grupos mais vistos. Além disso, há também os caçadores que não utilizam as redes sociais para veicular imagens e vídeos de caçadas.

Redes sociais fortalecem quem está cometendo crimes

De acordo com Hani, as redes sociais facilitam a aproximação e a troca de experiências entre os caçadores – o que não aconteceria em outras circunstâncias. “As mídias sociais possibilitam que pessoas de lugares muito distantes façam esse tipo de contato. Quem imaginaria, por exemplo, que um caçador do Rio Grande do Sul poderia falar com um do Acre ou do Amapá, que um comente a foto do outro e que troquem informações e técnicas de caça? Criou-se um ambiente em que eles conseguem interagir em distâncias muito grandes”, completou.

Sobre a propagação de informações sobre caça pelas redes sociais, o estudo enfatizou que a publicação desse tipo de conteúdo torna os donos das plataformas cúmplices da caça ilegal, de acordo com a legislação brasileira. Em 2022, o Ibama multou em 2 milhões de dólares a Meta, proprietária do Facebook, do Instagram e do WhatsApp, pela exposição de venda ilegal de animais silvestres.

Fauna News fez contato com a assessoria de comunicação do Facebook para saber quais providências a empresa tem tomado para resolver o problema, porém não obteve resposta até a data de publicação desta matéria.

90% dos brasileiros são contra a caça

Três pesquisas revelaram que pelo menos 90% da população brasileira é contra a caça. Em 2003, pesquisa do Ibama mostrou que 90% dos brasileiros desaprovam a prática. Em 2019, a ONG WWF Brasil encomendou ao Ibope uma pesquisa semelhante, que mostrou que 93% dos brasileiros são contra a caça. Em 2022, trabalho do Datafolha conseguiu um resultado de 90%.

Fonte: Fauna News

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