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sexta-feira, 10 de maio de 2024

Abandono em série de animais atormenta indígenas em SP

 


A aldeia Tekoa Krukutu recebeu pela terceira vez no ano uma equipe de voluntários para cuidar dos 145 animais da comunidade, que fica às margens da Represa Billings, na divisa de São Bernardo e Parelheiros, bairro da zona sul de São Paulo. A iniciativa foi replicada devido à ação desenfreada de abandono de animais no território, o que preocupa os líderes locais.

No último dia 5, foram encaminhados para castração, vacinação contra a raiva e tratamento com medicamentos pelo menos 130 cachorros e 15 gatos – a aldeia, em comparação, tem 74 famílias residentes.

Esta é uma realidade preocupante do ponto de vista de saúde não só animal, mas para os próprios indígenas, segundo Stephanie Sussai, veterinária que compõe a coordenação do grupo voluntário que esteve presente na ação, o Médicos do Mundo. “Todas as comunidades indígenas em que passamos estão enfrentando o abandono de animais, e isto é crime. Aqui, eles dividem o pouco alimento que têm com o animal, que muitas vezes chega com pulga, verminose ou sarna. Pensando em termos de saúde, a população é frágil diante destas doenças e a gente sabe que, ainda mais por se tratar de um ponto de divisa (São Bernardo e Parelheiros), uma prefeitura joga a responsabilidade para a outra”, conta ela.



Tanto para a veterinária, como para o líder indígena da Krukutu, Tranquilino Karay Martines, além da conscientização popular sobre a posse responsável, um dos principais entraves para o combate do problema são as políticas públicas. “É como se os indígenas não tivessem vez. Sempre tivemos e sempre teremos que lutar pela posse e com o que fazem em nossas terras, como é o caso do abandono dos animais por aqui, que ficou pior quando começou a pandemia. Não bastasse isto, só tem médico na aldeia quatro vezes na semana e a distância é grande se algo grave acontecer com a gente ou com os bichos”, finaliza.

Aldeia remota

Segundo o pajé da aldeia Brilho do Sol, vizinha à Krukutu, Laurindo Tupã, se o abandono animal não for controlado, a situação humanitária dos povos locais pode ficar ainda mais delicada. A 10 minutos de distância da Krukutu, com acesso apenas por barco ou trilha estreita, a comunidade abriga 18 famílias. “Em contraponto com a Krukutu, a quantidade de cachorros por aqui é controlada, também pela distância com a cidade. Acredito que isto assegure nossa própria subsistência e respeite o meio ambiente”, destaca.

Para o líder espiritual da aldeia mais remota de São Bernardo, a ausência de preocupações em torno do cuidado com animais abandonados pode ser um fator decisivo. “Na Brilho, por exemplo, não temos água encanada, tratamento de esgoto e nem solo propício ao cultivo de alimentos ou de Taquara (item básico para o artesanato comercializado que assegura boa parte da subsistência da comunidade). Por isso, nossa vontade é que todos pensassem no problema que muitos povos originários também têm enfrentado antes de abandonar animais por aqui”, desabafa.

Por Lays Bento

Fonte: Diário do Grande ABC

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