Foto: ilustração
Atropelados,
abandonados e vítimas de maus-tratos: é assim que os animais chegam até a
Sociedade União Internacional Protetora dos Animais (Suipa). Lá, eles passam
por uma avaliação clínica, são medicados, alimentados e colocados para adoção.
A instituição, que completa 80 anos no dia 27 de abril, carece de ajuda
financeira principalmente para alimentar os 2.200 animais, que consomem cerca
de 650 quilos de comida por dia. Além da necessidade de insumos básicos para
manter o local aberto, a Suipa sofre com um acúmulo de dívidas em torno de R$
90 milhões.
Para
arrecadar doações, a ONG está com uma campanha online em seu site e irá
promover uma programação especial neste mês de abril, como uma comemoração na
Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), e um evento de
adoção em Copacabana, Zona Sul do Rio.
Há
20 anos, a Suipa chegou a perder o título de entidade pública federal. Para
reaver, a Comissão de Proteção e Defesa dos Animais (CPDA) da OAB-RJ chegou a
ir à Brasília, ano passado, e conseguiu de volta o título, que foi entregue em
uma audiência na OAB. “A antiga presidente da instituição, falecida Isabel
Cristina, esteve presente da audiência para receber novamente o título que, com
muita luta, conseguimos de volta. Teve uma repercussão muito grande quando ela
entregou os documentos para a gente analisar e ajudá-la nessa questão”, disse o
presidente da comissão, Reynaldo Velloso.
De
acordo com ele, situações como a da Suipa, atualmente, que está com uma dívida
impagável, vêm acontecendo com outras instituições e ONGs de animais também.
“Isso está acontecendo porque o Brasil, hoje, não tem um programa de políticas
públicas voltadas para os animais. Além da castração e vacinação, também é
necessário contemplar a conscientização e a educação. Precisamos dessa educação
desde o colégio para criar no cidadão de amanhã o amor e o respeito pelos
animais”.
Reynaldo
afirmou que é importante que o governo chegue junto. “Temos quase 40 milhões de
animais abandonados no Brasil, isso só cão e gato. Fora jumento, entre outros.
Então, é quase impossível avançar em uma situação como essa sem programa de
políticas públicas governamentais, que faça treinamento de resgate e
conscientização para os adultos, por exemplo. É necessário usar espaços dos
condomínios, clubes de serviço e palestras. Se não tivermos isso, situações
como essa da Suipa vão persistir e se alastrar em outras dezenas de
organizações e abrigos que temos hoje no Rio”.
De
acordo com ele, os 80 anos da Suipa são marcados por muitos resgates e
resistência. Antigamente, a instituição conseguia ajudar até cobras e gaviões,
mas hoje está limitada, focando principalmente em cães e gatos. “Além de
oferecer abrigo, tem tratamento médico também. A pessoa chega com o animalzinho
machucado lá e é atendido por um veterinário da melhor linha possível. A
instituição conta com ótimos profissionais, o problema é a falta de política
pública mesmo. Precisamos conscientizar o cidadão de que, ao adotar um animal,
ele vira parte da família e vai precisar de cuidado como qualquer ser vivo”.
O
presidente da Suipa, Marcelo Marques, explicou que a sua principal preocupação
é a ração dos animais e os medicamentos, além do salário em dia dos funcionários,
que estão recebendo atrasado há pelo menos um ano. “É quase uma tonelada de
comida para os animais por dia, não estamos falando de mês. Temos também o
ambulatório, que tanto cuida dos animais abrigados, quanto dos da população de
baixa renda, porque atendemos com preços populares. Fora aqueles moradores de
rua que trazem animais para serem consultados. Pegamos muitos animais também
vítima de maus-tratos ou que são amarrados aqui na porta abandonados. Ao se
recuperarem, colocamos para adoção”.
Foto: ilustração
A
ONG não é do poder público, mas sim uma iniciativa particular, que sobrevive de
doações e contribuições voluntárias. “Muita gente acha que a Suipa pertence ao
poder público, mas ela não só não pertence como também não temos ajuda nenhuma
deles. Ficamos muito tristes porque, de alguma forma, a gente ajuda a cidade, o
estado, então pensamos que poderiam nos ajudar como uma via de mão dupla”.
O
dinheiro que entra é destinado primeiramente para alimentação. “Eu sou obrigado
a direcionar para essa área porque não temos outra opção. O salário dos meus
funcionários vão ficando para trás, têm vezes que vai acumulando. Eles recebem,
mas atrasado. Depois, têm os insumos como luvas, soros lactados, esparadrapo,
tudo isso que é muito consumido. Fora custo de água para limpar o canil, cloro.
Temos muito amor, mas às vezes só o amor não basta”.
Segundo
o coordenador veterinário da ONG, João Wassita, que trabalha há 28 anos no
local, o período que a Suipa mais recebe animais abandonados é de dezembro a
fevereiro, nas datas festivas de Natal, Ano Novo e Carnaval. “As pessoas vêm e
deixam aqui amarrados no portão. A maioria é o cachorro Sem Raça Definida
(SRD), o famoso SRD. Acreditamos que são abandonados porque seus donos querem
viajar ou curtir os feriados e não têm com quem deixar, ou não querem ter
trabalho com o animais”.
A
maioria dos animas que chegam à instituição, de acordo com João, chegam
atropelados, feridos, ou com doenças. “A gente tenta salvar e dar o máximo
possível de carinho e amor. Alguns conseguem, outros não. Meu trabalho é
gratificante porque pegamos o animal mal e conseguimos vê-lo melhorar, correr,
brincar. Isso é impagável. Muitos outros lugares iriam dar a eutanásia, mas nós
acreditamos na cura e fazemos de tudo para dar a melhor vida para eles”.
A
prefeitura, através da Secretaria Municipal de Proteção e Defesa dos Animais
(SMPDA), informou, através de nota, que está estruturando um pacote de ajuda
para auxiliar a Suipa a sair da crise. “Embora haja muitas ONGs, a Suipa possui
um número de animais abrigados que justifica alguma ajuda mais estruturada à
entidade. Estamos esperando o prefeito retornar da China para definirmos a
ajuda e podermos divulgá-la de forma definitiva”, disse parte do comunicado.
História
A
Suipa foi fundada em 1943 e continua no mesmo local, no Jacarezinho, Zona Norte
do Rio. “Quando foi criada, não existia nem a comunidade anda. A gente acredita
que quem começou a ONG foram as crianças, que levaram a ideia para os seus pais
e eles decidiram fazer algo mais sério. Hoje temos a palavra Internacional na
sigla porque a instituição se envolveu contra a matança de baleias em águas
nacionais e internacionais”, explicou Marcelo.
Ela
é uma Sociedade Protetora dos Animais contra a morte induzida. De acordo com a
instituição, muitas pessoas entregam seus animais e mentem ao dizer que os
encontraram na rua, pois quando eles vão embora, os animais ficam tristes,
entram em depressão e morrem.
Os
animais abrigados são esterilizados para que não haja procriação e nem brigas
com a chegada do cio das cadelas e gatas. Além disso, todos são vacinados. Há
também tratamento especial para as fêmeas que chegam à Suipa em processo
gestacional, recebendo alimentos adequados. Animais anti-sociáveis ficam em
canis separados e são diariamente observados pelos veterinários.
Programação
De
acordo com Marcelo, a Suipa foi convidada para uma sessão solene que será
realizada na Alerj em homenagem ao trabalho da instituição. O convite foi feito
pelo deputado Léo Vieira (PSC).
A
sessão será aberta e acontecerá no dia 26 de abril, às 18h30, no Plenário do
Edifício Lúcio Costa, no Centro do Rio.
Além
disso, uma campanha foi lançada no site da Suipa (www.suipa.org.br) para
arrecadar doações. Ressalta-se que a ONG tem também o programa “Adote um
Focinho Carente”, que é permanente e itinerante em vários bairros da cidade do
Rio, no qual permite a adoção de cães e gatos.
Fonte: O Dia
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