Uma picanha recém-saída da churrasqueira pode causar em muita gente uma
reação parecida. A boca começa a salivar, e vem um desejo enorme de comer a
carne grelhada na brasa.
Mas há pessoas que,
ao pensar sobre tudo o que aconteceu antes da picanha chegar ao prato, podem
sentir um certo desconforto.
É o chamado
“paradoxo da carne”, conflito moral que ocorre quando nosso reconhecimento dos
direitos dos animais e os efeitos da produção de carne para o planeta se chocam
com nossa vontade de comê-la.
Há cada vez mais
informações e evidências científicas a esse respeito disponíveis, e isso coloca
em questão o prazer que muitos sentem ao se alimentar.
A produção e o
consumo de carne representam hoje um grande problema ético e ambiental no
mundo: quase 15% das emissões globais de gases que provocam o efeito estufa
podem ser relacionados à produção pecuária.
Cerca de 1 trilhão
de animais são criados e mortos antes de chegar à mesa a cada ano – e são
criados de forma que nos chocariam se o mesmo tratamento fosse dado a animais
de estimação.
Essas e outras
informações foram reunidas a partir de artigos científicos e pesquisas feitas
por Rob Percival, autor de Meat Paradox: Eating, Empathy and the Future of Meat
(O paradoxo da carne: comer, empatia e o futuro da carne, em tradução livre).
Percival é diretor
de políticas alimentares da Soil Association, organização britânica dedicada a
transformar a forma que as pessoas comem e valorizam a alimentação.
Por mais de dois
anos, ele compilou tudo o que podia sobre o assunto para ilustrar a dicotomia
de que trata em seu livro.
Percival aponta ser
muito comum que alguém tenha um distanciamento cognitivo com o alimento que
come.
“Raramente
encontramos os animais que consumimos. Não os conhecemos. Não testemunhamos
seus momentos finais e normalmente não participamos da desmontagem de seus
corpos”, afirma à BBC News Brasil.
Isso gera o que ele
e outros especialistas chamam de ignorância deliberada, já que muitas pessoas
buscam intencionalmente não se informar sobre os processos industriais nos
quais os animais criados para abate estão envolvidos.
O psicólogo Hank
Rothgerber, autor de inúmeros estudos que abordam a psicologia do ato de comer
carne animal, aponta que, em várias investigações, entrevistados disseram que
não sabiam sobre práticas agrícolas e de bem-estar animal porque desejavam
permanecer ignorantes a respeito.
“Em muitos casos,
porque sabiam que tais informações dificultariam emocionalmente a compra e o
consumo de carne”, afirma Rothgerber.
Já Percival aponta
que, embora muita gente diga que se preocupa com o bem-estar animal, 67%
admitem que não gostam de pensar nisso quando estão fazendo compras.
Entre quem
considera o bem-estar animal “altamente importante”, cerca de metade diz pensar
nisso quando vai a um supermercado ou restaurante.
“Mesmo os mais
conscientes entre nós somos propensos à ignorância deliberada”, afirma
Percival.
Ao mesmo tempo, diz
o pesquisador, o cuidado e valorização dos animais são um comportamento cada
vez mais comum na sociedade hoje.
Muitas pessoas se
dedicam intensamente a cuidar e oferecer a melhor vida a seus animais de
estimação, criam instituições de ajuda a animais, estão à frente de projetos de
resgate de bichos que vivem na rua.
“Somos empáticos
por natureza, e o apego aos animais de estimação pode refletir uma
‘canalização’ dessa empatia”, explica Percival.
A questão é que
aprendemos a separar, até certo ponto, essa empatia que focamos em “animais não
comestíveis” (ou de estimação) dos “animais comestíveis”.
Percival acredita
que os dois fenômenos – o apego aos animais de estimação e o distanciamento
cognitivo do modo produção de carne – estão ligados.
“Podemos ver nossa
devoção aos animais de estimação como um mecanismo de enfrentamento, mitigando
os sentimentos dissonantes às vezes despertados por nossa cumplicidade no mal
causado a vacas, porcos e galinhas”, aponta.
“Encontrar um
equilíbrio é desafiador. No momento, nossos valores e nosso comportamento estão
em desacordo.”
Muitas vezes, as
pessoas defendem uma coisa, mas fazem outra. Isso é evidente no Reino Unido,
por exemplo, segundo dados reunidos pelo autor.
Uma em cada três
pessoas diz estar comendo menos carne, muitas vezes citando o bem-estar animal
ou preocupações ambientais como a principal razão para isso. Mas isso não
provoca uma redução significativa no consumo de carne.
“A maioria das
pessoas no Reino Unido diz que o bem-estar animal é muito importante para elas,
mas são os porcos e galinhas de criação industrial que fornecem a maior parte
da carne de suas dietas”, afirma Percival.
A tendência é
semelhante em outros lugares do mundo. Na Alemanha, por exemplo, o consumo per
capita aumentou na última década.
Em uma pesquisa de
2020, 42% dos alemães disseram que estavam comendo menos carne, mas os dados
sobre o consumo real não apontaram um declínio relevante.
Vários estudos recentes
reunidos por Percival em seu livro ilustram essa dissonância comum entre o que
as pessoas afirmam e fazem em relação ao consumo de animais.
Uma pesquisa com 10
mil americanos apontou que 60% dos que se diziam vegetarianos haviam comido
carne ou frutos do mar no dia anterior.
Em outras pesquisas
nos Estados Unidos, aproximadamente 7% das pessoas se identificaram como
vegetarianas, mas, quando perguntadas sobre seus hábitos alimentares, apenas
entre 1 e 2,5% haviam seguido uma dieta vegetariana de fato nas semanas
anteriores.
“Essas descobertas
não são preocupantes por si só, mas ilustram o grau em que nossos
comportamentos podem se divorciar de nossa autoimagem, nossa suscetibilidade a
formas sutis de autoengano”, explica.
As pesquisas
demonstram, segundo ele, que a suposta “mudança de comportamento” é uma
estratégia comum adotada em resposta ao paradoxo da carne.
Ao mesmo tempo, o autor aponta que a indústria da carne tem uma
influência importante sobre esse padrão de comportamento.
“A
indústria da carne é altamente consolidada, com alguns atores poderosos puxando
os cordões nos bastidores”, diz.
“As dez
maiores empresas do setor no mundo são responsáveis pela vida e morte de mais
de 10 bilhões de animais, mas nós [consumidores regulares] não sabemos nem quem
são essas empresas.”
Além de
criar rótulos e marcas que podem muitas vezes ser desonestos, Percival aponta
que a indústria da carne pressiona agressivamente governos e comercializa
vorazmente seus produtos.
“A
consolidação do poder [dessas empresas no mercado] também contribui para uma
sensação de distanciamento entre consumidor e o alimento que é consumido”,
afirma Percival.
O autor
afirma, no entanto, que o fato de esse autoengano ser tão comum pode ser motivo
de um certo otimismo, porque, em última análise, isso se deve ao poder de nossa
empatia pelos animais. “Paradoxalmente, só agimos assim porque nos importamos.”
Percival
destaca que têm ocorrido avanços no desenvolvimento de proteínas alternativas,
feitas à base de vegetais ou com as células dos animais, sem precisar matá-los,
que facilitam a vida de quem deseja consumir menos carne de criação industrial
ou parar com isso por completo.
Uma vez
que estes produtos se tornem competitivos em preço com as versões tradicionais,
o autor acredita que poderá ocorrer uma redução significativa no consumo de
carne.
“A agenda
ambiental também está avançando – simplesmente não há como resolver as crises
do clima e da natureza sem mudanças na dieta humana”’, conclui.
Por Rafael Tonon
Fonte
e fotos: BBC News Brasil
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