Beatriz Paoletti | Redação ANDA
Imagem: Germano Woehl Junior
Segundo a BBC News Brasil,
o sapinho-da-restinga é um anfíbio extremamente pequeno, tão minúsculo quanto
uma moeda (ou até menor). Eles são encontrados apenas no parque estadual da
cidade litorânea de Guarapari, ES, e estão sofrendo os impactos das mudanças
climáticas, assim como muitas outras espécies de anfíbios.
O sapinho-da-restinga,
ou Melanophryniscus setiba (nome cientifico), foi descoberto
em 2006 pelo biólogo Pedro Peloso e descrito em artigo cientifico apenas em
2012. O sapo ainda não foi muito bem documentado, apesar de se ter conhecimento
de sua condição de extrema fragilidade, tanto que está incluído na lista de
espécies de anfíbios ameaçados de extinção, configurado na categoria de perigo
crítico.
“Ele só é conhecido em
uma localidade, cercada de desenvolvimento urbano. Qualquer distúrbio no
ambiente, como um fogo fora de controle, pode levá-lo à extinção”, fala Peloso
à BBC News Brasil.
Mudanças no meio
ambiente como o desmatamento, as queimadas e o aquecimento global são ameaças,
direta ou indiretamente, a muitas formas de vida do planeta. Porém,
anfíbios anuros, como o sapinho-da-restinga e outros sapos, rãs e pererecas,
são bastante sensíveis a pequenas mudanças de temperatura, a parasitas ou
alterações em seus habitats, o que deixa os pesquisadores em alerta.
Por conta de sua sensibilidade, os anfíbios anuros são
importantes no ecossistema, e os manter preservados é uma das preocupação dos ambientalistas.
Já é conhecido entre os especialistas que os anuros desaparecem
de seus habitats, mas os biólogos não entendem o porquê, comunica Pedro Peloso,
professor de zoologia da pós-graduação da Universidade Federal do Pará e
realizador do DoTS, projeto que registra espécies de anfíbios ameaçadas no
Brasil.
No último mês de abril, em 2021, uma pesquisa brasileira
publicada no periódico científico Biological Conservation identificou um
“contínuo e críptico” declínio de populações de anuros no Sudeste do Brasil, e
se hipotetiza que é por conta das mudanças climáticas . E não apenas anuros
brasileiros vem desaparecendo, há um declínio global que intriga os
pesquisadores.
Em 2018, foi apontado em estudo que 10%
das espécies de sapos, rãs e pererecas que exclusivamente vivem na Mata
Atlântica podem deixar de existir em até 50 anos, por conta do aumento
constante das temperaturas locais e globais.
A diminuição das populações de anfíbios pode ser ainda mais
expressiva em números absolutos no Brasil, por ser um país com uma variedade
grande de espécies, explica à BBC News Brasil Felipe Andrade, biólogo e doutor
em biologia animal pela Unicamp, que se especializou em micro-sapinhos.
Andrade também fala sobre o desaparecimento destas espécies
antes mesmo de serem estudadas ou
sequer serem achadas e identificadas. “Se ainda não conhecemos e
descrevemos toda a biodiversidade brasileira desse grupo animal, será que
conseguimos estimar de fato tudo que estamos perdendo?”, pergunta.
Foi mapeado em 2019 a
presença de 2,6 mil espécies de anuros na América do Sul, sendo que as
maiores concentrações desses anfíbios eram na Amazônia Ocidental e a Mata
Atlântica do Sudeste brasileiro.
Baixa tolerância ao calor
“Os anfíbios anuros são um dos grupos animais mais vulneráveis
ao aquecimento global, por conta, sobretudo, de
suas peles finas e permeáveis, bem como sua dependência da água para reprodução“,
diz Andrade.
“Qualquer diminuição nas chuvas tem implicação aos anfíbios, que
precisam de áreas úmidas”, adiciona Peloso.
Ainda é desconhecido pela ciência quais grupos especificamente
estão sob perigo de extinção com mais gravidade, ou quais suas fragilidades.
“O difícil é saber quais (anfíbios), quando e onde estarão sob
risco de extinção”, fala à reportagem o biólogo Agustín Camacho, que desenvolve
sistemas baseados em algoritmos que mapeiam o comportamento de ecossistemas
complexos.
Apesar das fragilidades certas vantagens interessantes quanto a
sobrevivência de anfíbios foram identificadas, como o fato de serem pequenos e rasteiros, os possibilitando se
esconder com alguma facilidade.
“E o fato de eles respirarem pela pele ainda gera debate entre
cientistas quanto a se traz vulnerabilidade ou uma certa resiliência, porque
eles conseguem reduzir suas temperaturas corporais em relação ao ambiente”,
trata Camacho.
Uma dissertação de mestrado orientada por Camacho no Instituto
de Biociências da USP, feito pela Caroline Guevara Molina, mostra que a
tolerância térmica pode ser o fator determinante para indicar quais anuros
terão capacidade adaptativa a um mundo com temperaturas mais elevadas.
Caroline percebeu que frente a altas temperaturas, as rãs não se
adaptam a novas temperaturas. Ela constatou isso a partir de estudos em
laboratório com o auxílio de uma rã, que ao coloca-la em recipiente com água
quente, o anfíbio ficou cada vez mais intolerante ao calor.
“Essa tolerância vinha sendo estudada como uma caraterística
fixa dos animais (anuros), mas na verdade ela pode variar”, pontua Camacho.
Esta constatação, ainda segundo ele, acrescenta uma camada adicional de
complexidade na tentativa de compreender as populações mais vulneráveis.
“Você pode dizer: ‘um animal nunca vai viver isso (de estar em
um ambiente em aquecimento lento e constante) na vida real’. Talvez não
vivencie o tempo todo durante sua existência, mas pode vivenciar em alguns
períodos determinados.”
O fungo Bd, desmatamento e mudanças climáticas
Além da baixa tolerância ao calor em geral, os anuros precisam
enfrentar o fungo Bd, ou Batrachochytrium dendrobatidis,
“um dos principais responsáveis pela redução da abundância e riqueza de
anfíbios dos biomas brasileiros”, diz Felipe Andrade.
O fungo Bd é um perigo para anfíbios no mundo todo. Segundo uma
reportagem da revista National Geographic de
2019, em referência a estudo publicado na Science, o fungo foi culpado pelo
“apocalipse” sofrido por sapos e salamandras ao redor do mundo, uma vez que
ele, atraído pela proteína da pele dos anfíbios, “come-a viva”. Ainda
foi atribuía ao Bd o declínio de ao menos 501 espécies de anfíbios no
planeta – ou uma em cada 16 espécies conhecidas da ciência até então.
E a relação do fungo
com as mudanças climáticas e o aumento da temperatura das águas também é fonte
de estudo. “O Bd está presente no mundo inteiro, mas uma alteração do
clima pode fazer com que ele se manifeste mais em alguma área onde talvez já
estivesse sob controle”, conta Peloso.
Porém, segundo Peloso, a
principal ameaça a sapos, rãs e salamandras no Brasil ainda é o desmatamento de
seus habitats, contribuindo para a fragmentação da floresta e por sua vez para
o meio ficar mais seco. Quanto a diminuição de áreas úmidas no país, um
levantamento recente da organização MapBiomas mostra que o país perdeu 15% de sua superfície
de água desde o início dos anos 1990.
Peloso exemplifica o caso dos sapos pingo-de-ouro, que habitam
as partes mais montanhosas da Mata Atlântica e gostam de chuva fina e neblina.
“São bichos restritos a um ambiente bem específico e a condições climáticas bem
específicas”, destaca o biólogo
Outro citado foi a salamandra-do-Pará. “É um animal bastante
único, que tem sido afetado pelo desmatamento em Belém (PA) e seu entorno. E
mudanças no regime das chuvas podem afetar muito essa espécie.”
Felipe Andrade também explica as dificuldades de identificar os
anfíbios, e que muitas vezes a olho nu passam imperceptíveis nuances
importantes para a descoberta de novas espécies. “A olho nu elas até parecem
iguais, mas quando vamos analisar seu DNA, seu canto ou seu comportamento,
encontramos diferenças muito grandes e vemos que se trata de uma espécie nova.
Exige um trabalho de formiguinha dos cientistas”. Entre estas espécies existem
várias ainda não conhecidas.
O sapinho-admirável-de-barriga-vermelha, um anuro de 4cm, é um
dos casos de anfíbios que, por agora, conseguiu passar incólume a ameaças
externas. Ele é classificada como criticamente em perigo e ocupa 700 m à beira
do rio Forqueta na Serra Gaúcha. Em razão de esforços de preservação a sua área
habitada não será mais palco para construção de uma usina hidrelétrica. Tanto a
barragem quanto a popuição de agrotóxicos no rio seriam ameaças a espécie.
Segundo o projeto DoTS -,
o sapinho virou símbolo ao ser destacado na capa do Livro Vermelho da Fauna
Brasileira Ameaçada de Extinção, publicado em 2018 pelo ICMBio, órgão do
Ministério do Meio Ambiente.
Sapinhos são eco-essenciais
Apesar de não serem quistos por algumas pessoas, os sapos, rãs e
pererecas são importantes para o ecossistema.
“São predadores de mosquitos
e demais insetos, e sua pele tem compostos químicos que podem ser a base de
princípios farmacológicos – mas isso requer estudos e
financiamento”, explica Andrade. “Além disso, eles são bioindicadores da saúde
de um bioma: quando os anfíbios somem de um determinado lugar, é um sinal de
que algo está acontecendo naquele ecossistema.”
A ameaça sobre eles serve de alerta para nos preocuparmos mais
com os efeitos do aquecimento global e estudos sobre estas espécies auxiliam
para se antever a maneira que o problema ambiental terá nas vidas dos outros
animais e até para os seres humanos, segundo Andrade.
Fonte: anda.jor.br
Vereadora Teca Nelma madrinha do @defesaanimalemacao
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