Ana Cristina | Redação ANDA
Autor do livro “Libertação Animal” e responsável por popularizar o termo “especismo” por meio de sua obra, o filósofo Peter Singer declarou em uma entrevista para a Harvard Political Review que é preciso atribuir status de consideração igualitária aos interesses dos animais não humanos.
“Mas precisamos deixar claro que, quando falamos sobre igual
consideração de interesses, estamos falando sobre interesses semelhantes. Isso
não significa exatamente que os interesses dos outros animais sejam iguais aos
nossos”, conta.
Singer ainda conta que,
diferente de nós humanos, os animais não possuem a capacidade de planejar suas
vidas, mas nem por isso têm menos interesse em não sentir dor física.
Quando questionado se incentivaria os vegetarianos a se tornarem
veganos, o filósofo afirmou que o veganismo é a coisa certa a se fazer, pois
significa que você não é cúmplice de várias formas de sofrimento animal e que
tem uma dieta que é mais sustentável para o planeta. “Não acho que seja uma
questão de pureza ser vegano”, acrescenta.
Meio ambiente
Com relação ao meio ambiente, Singer avalia que as preocupações
não devem ser consideradas independentes ao bem-estar dos seres sencientes –
animais com capacidade de sentir sensações e sentimentos de forma consciente.
“Se, de alguma forma, danificar o meio ambiente não afetasse
nenhum ser senciente – por exemplo, um cenário de última pessoa na terra em que
você era a última pessoa na terra e pensou que seria divertido queimar a
floresta na ilha em que você está vivendo antes de morrer – não consigo ver por
que isso seria errado. Seria uma preferência estranha, mas não acho que seria
moralmente errado. Acho que essas coisas realmente dependem do impacto que têm
sobre os seres sencientes para terem significado moral”.
Ainda, Tarun Timalsina, da HPR, também pediu a opinião de Singer
sobre o campo da neurobiologia vegetal, que busca estabelecer as plantas como
seres sencientes e conscientes.
“Não vi evidências convincentes de que as plantas são seres
conscientes. A palavra ‘senciente’ é um pouco enganosa, embora seja verdade que
eu a uso e é de uso popular. Mas, estritamente falando, suponho que você possa
dizer, bem, as plantas são sencientes porque sentem a luz do sol e viram suas
folhas em direção ao sol. Isso é o suficiente para ser senciente. E, nesse
sentido, uma porta de elevador que detecta se você está com o braço no caminho
também é senciente”, respondeu.
E continuou: “Mas estou preocupado com a consciência – sobre os
seres tendo experiências. Existem muitas informações intrigantes sobre as
plantas, mas, no meu entendimento, nenhuma delas realmente estabelece que as
plantas tenham experiências conscientes.”
No entanto, o filósofo reconheceu que se um dia for provado que
as plantas têm consciência, isso representará uma mudança.
“Gostaríamos de evitar que elas sofressem tanto quanto
pudéssemos, mas ainda temos que comer algo, e não acho que morrer de fome e ser
extinto seria o mais adequado. Então pensaríamos em minimizar a quantidade de
dano que estamos causando às plantas. E certamente isso ainda sugeriria, creio
eu, que devemos comer plantas diretamente, em vez de consumir animais, porque
os animais comem muito mais delas. E se comemos animais, somos responsáveis
por um número muito maior de plantas consumidas.”
Carne vegetal e cultivada significa um progresso na indústria
De acordo com o site Vegazeta, em relação à sua posição sobre
estimular um despertar moral nas pessoas ou se concentrar no aperfeiçoamento de
carnes vegetais e carne cultivada, Singer apontou que o momento é de fazer as
duas coisas.
Para o filósofo, embora comer carne celular não seja vegano, ele
disse que não considera isso errado. “Não há nenhum animal senciente sendo
prejudicado, e é provável que seja altamente sustentável”. Além disso, ele
acredita que é importante desenvolver esse tipo de produto, já que possuem
potencial para reduzir o sofrimento animal e as emissões de gases de efeito
estufa.
Apesar disso, a preocupação volta para a necessidade das pessoas
perceberem as razões éticas para consumir esses novos produtos. Ao contrário
disso, poderá haver novas formas de crueldade com os animais fora do consumo.
“Não faremos progresso assim”.
“Eu gostaria de ver nosso progresso na redução do sofrimento dos
animais em geral, embora reconheça que criá-los para alimentação envolve, de
longe, o maior número de animais e é responsável pela maior quantidade de
sofrimento em relação a qualquer atividade que envolva animais”, conclui.
Foto: Derek Goodwin
Fonte: anda.jor.br
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