Um grupo de pesquisadores da Unesp de Botucatu, coordenado pelo médico veterinário e docente Stelio Luna, publicou um artigo na reconhecida revista PloS ONE, em outubro, que demonstra as alterações nos comportamentos de coelhos causadas pela dor pós-operatória. A pesquisa investigou os comportamentos desses animais antes e após uma cirurgia ortopédica. Os resultados trazem importante apelo para as considerações de bem-estar em coelhos, que a cada dia crescem em número como animais de estimação. O estudo contou com apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
Apesar de cães e gatos serem os animais de estimação mais comuns,
coelhos vêm ganhando cada vez mais espaço como pets. Entretanto, é importante
lembrar que esses animais apresentam suas próprias necessidades.
“Os coelhos não devem
ser tratados como gatos ou pequenos cães, pois apresentam várias
particularidades relacionadas a hábitos, alimentação, higiene e comportamento”, comenta Renata
Pinho, médica veterinária e doutoranda que é co-autora do artigo.
A pesquisadora destaca que uma das particularidades desses animais é que eles tendem a esconder sinais mais óbvios de dor na presença de humanos.
Para realizar o estudo, os pesquisadores filmaram os comportamentos dos
coelhos antes e depois da cirurgia ortopédica, que é comum nesses animais, para
comparar as alterações e identificar os comportamentos específicos de dor aguda
pós-operatória. Como a presença de um observador humano poderia afetar a
expressão dos comportamentos de dor nos coelhos, os pesquisadores realizaram as
filmagens tanto na presença quanto na ausência do observador, para comparar os
resultados. E, realmente, viram a diferença.
“Em algumas
situações, animais com dor deixaram de expressá-la quando o observador estava
presente. Por outro lado, antes da cirurgia, muitas vezes os coelhos ficaram
mais quietos, com baixos níveis de atividade, dando a falsa impressão de que
poderiam estar com dor”, lembra Luna.
Apesar dos desafios para detectar a expressão da dor em coelhos, os
pesquisadores identificaram alterações comportamentais sutis e específicas
desses animais.
“O coelho pode não
vocalizar, mancar ou lamber a ferida como outros animais fazem, mas apresentam
alguns comportamentos bem discretos, como se encolher e fechar os olhos, além
de reduzir a interação com brinquedos e o apetite por alimentos palatáveis,
como vegetais frescos”, pontua Renata.
De acordo com Luna, os coelhos também apresentam algumas alterações
comportamentais mais claras quando estão com dor, que podem ser percebidas mais
facilmente.
“Alguns
comportamentos são mesmo muito sutis, mas outros são mais evidentes, como a
cabeça mais baixa e a menor mobilidade do animal”, exemplifica.
Os resultados do estudo são a base para a construção de uma escala de avaliação
de dor a partir dos comportamentos dos coelhos, que deverá também ser publicada
em breve pelo grupo de pesquisa coordenado por Luna. A escala, que trará uma
pontuação numérica em seu escore total, indicando o nível de dor que o animal
deve estar sentindo, será um instrumento de fácil utilização.
“Futuramente, com a
escala, qualquer pessoa, ou seja, mesmo o tutor de um coelho, será capaz de
saber se o seu pet tem ou não tem dor, o que deverá contribuir com as questões
de bem-estar para os coelhos, já que a dor é uma das principais causas de
sofrimento animal”, finaliza o docente.
(Fotos: Divulgação/Pixabay)
Fonte: amomeupet.org
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