“Uma
cachorra sem raça definida (SRD) de três anos fugiu de sua casa, no Jardim das
Américas, em Curitiba, e ficou 18 dias escondida em um conjunto de manilhas bem
no meio da Avenida das Torres, uma das vias mais movimentas da capital. O
resgate, na segunda-feira (20), só foi possível porque a tutora foi localizada
e deu confiança para o animal. Até o resgate, Lika conseguiu sobreviver comendo
ossos, restos de carne assada e pedaços de linguiça Blumenau que eram dados por
protetores e funcionários de uma churrascaria em frente à manilha.”
“O resgate vinha sendo articulado
há uma semana. Voluntários da Associação Ajude Focinhos de Curitiba receberam o
alerta e pequenos grupos, em revezamento diário, começaram a empreitada. Para
que o contato fosse mais atrativo, deixaram a ração de lado e ofereceram
comidas mais apetitosas, mas nada adiantou.
“Funcionários
da churrascaria da frente sabiam que ela estava ali, então eles levavam ossos,
pedaços de carne assada. A gente também levou linguiça Blumenau, mas nem assim
ela vinha”, comentou Carlos Caetano Zarpellon da Costa, 42 anos,
vice-presidente da Ajude Focinhos e que ajudou no resgate.
A parte
das manilhas onde Lika costumava se esconder tinha uma profundidade aproximada
de 14 metros e uma largura pequena demais para permitir a entrada dos
protetores. Arapucas foram montadas e, nesse meio tempo, a cachorra quase foi
laçada, mas conseguiu se esquivar. Por isso, o Corpo de Bombeiros foi acionado
no último domingo (18), mas não conseguiu agir porque, antes, precisaria de
autorização da prefeitura para quebrar parte da estrutura.
“Seria
praticamente uma obra fazer esse resgate. No domingo, ficamos até dez e meia da
noite, mas ela estava muito assustada. Era muito barulho de carro o tempo todo
e ela sempre acabava correndo para o fundo”, relembra Costa.
Mas foi ainda na noite de domingo
que a sorte da Lika começou a mudar. Pelo Facebook, Costa e a esposa, Maisa,
viram uma publicação da fotógrafa Milena Martins Carbente, 19 anos, que estava
à procura de uma cachorrinha que em muito lembrava aquela perdida entre as
manilhas da Avenida das Torres. Na segunda, conseguiram conversar e os três
correram para lá.
E foi
então a vez de Milena superar medos. Claustrofóbica, vestiu um roupão e entrou
na parte da frente da manilha em que é possível chegar rastejando. Ignorou as
aranhas que se acumulavam aos montes e, ao ver quem procurava abanar
insistentemente o rabinho para ela, entrou em uma crise de choro.
“Eu cheguei lá e dei de cara com
ela. E ela imediatamente me reconheceu também porque começou a abanar o
rabinho. Eu chamava, ela até veio umas três vezes para perto, mas logo depois
voltava. Aí comecei a chorar e de repente ela chegou perto de mim”, relata a
fotógrafa. Todo esse processou durou quase 1h30, pois Lika estava muito
assustada por causa do barulho
Fuga
Milena conta que Lika, que mora na casa de sua avó,
no bairro Jardim das Américas, fugiu alguns dias depois de a casa ser
assaltada.
A fuga foi no dia 1°. de novembro, véspera do
feriado de Finados. Desde então, a fotógrafa tinha mobilizado uma rede para
tentar encontrar o animal, mas nada vinha funcionando. “Distribuí folhetinhos
nas ruas, fui para as redes sociais, procurei muito e já estava desesperada. A
Lika foi achada na rua com a irmãzinha logo depois de a minha mãe morrer, então
ela significa muito para mim. Encontrá-la foi um sinal de que gente nunca pode
perder as esperanças mesmo”.
Apesar do susto, Lika passa bem.”
Por Angieli Maros
Fotos: Milena Martins Carbente. – Arquivo Pessoal
Fonte: Gazeta do Povo
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