Por que um país que diz proteger a natureza possui onças-pintadas e
macacos atrás das grades? Essa é a pergunta que se fizeram as
autoridades ambientais da Costa Rica.
E para resolver esse paradoxo, o país tomou uma decisão radical: não ter mais animais em cativeiro.
A Costa Rica, com apenas 4 milhões de habitantes e com uma das maiores
concentrações de biodiversidade do mundo, decidiu fechar seus dois
zoológicos estatais e transformá-los em jardins botânicos.
"Estamos enviando uma mensagem ao mundo. Queremos ser congruentes com
nossa visão de país que protege a natureza", disse à BBC Mundo Ana
Lorena Guevara, vice-ministra de Meio Ambiente da Costa Rica.
Guevara explica que, com a decisão, o governo pretende eliminar o
conceito de animais enjaulados e criar novos espaços de parques
naturais.
A vice-ministra diz que há uma grande quantidade de zoológicos privados
no país com uma visão de resgate e preservação que continuarão
funcionando. No entanto, os que pertencem ao Estado passarão por uma
transformação total.
A decisão de fechar os zoológicos estatais foi tomada por um país
conhecido internacionalmente por sua luta pela preservação ambiental.
Em 1998, a Costa Rica promulgou a chamada Lei da Biodiversidade, uma
extensa legislação de proteção ao meio ambiente, considerada pioneira no
mundo.
Apesar de responder por apenas 0,03% do território da superfície da
terra, o país reúne, segundo cientistas, 4% de toda a biodiversidade do
planeta.
Fim das jaulas
A Costa Rica tem dois zoológicos estatais: o Parque Zoológico Simón
Bolívar, em pleno centro da capital, e o Centro de Conservação, no
subúrbio de Santa Ana, na província da capital San José.
Conhecido simplesmente como Simón Bolívar, o zoológico do centro de San
José foi durante décadas um destino de lazer para gerações de
costarriquenhos e turistas.
No entanto, a partir de 2014, os dois zoológicos deixarão de existir
como são conhecidos. O Simón Bolívar será transformado em um jardim
botânico e o Centro de Conservação, em um parque natural urbano.
Como parte da reforma, as jaulas serão eliminadas e os 400 animais
serão transferidos para centros de resgate e zoológicos privados do
país.
O novo jardim botânico terá um centro natural de exposição de orquídeas
que atrairá aves locais. Além disso, os novos parques também
funcionarão como centros de pesquisa científica.
Polêmica
"Esta decisão nos deixa preocupadíssimos", disse Yolanda Matamoros, diretora do Parque Zoológico Simón Bolívar, à BBC.
Matamoros, que é zoóloga e atua há 22 anos como diretora do zoológico,
diz acreditar que há uma grande incerteza sobre o futuro dos animais do
parque. "Nós nunca fomos à floresta caçar esses animais. Todos os
animais que temos em nosso zoológico foram resgatados ou doados."
"O problema é que se os transferirmos aos centros de resgate, não
sabemos se receberão cuidado adequado. Além disso, se os libertarmos,
morrerão invariavelmente de fome pois não sabem caçar. São animais
acostumados a viver em cativeiro", afirma.
Matamoros diz não compreender por que o Ministério do Meio Ambiente da
Costa Rica (MINAE) tomou a decisão sem consultar os especialistas do
parque. Até o momento, segundo ela disse, não recebeu uma notificação
oficial de fechamento do zoológico.
Além disso, ela levanta suspeitas sobre a decisão de fechar o zoológico
no momento em que aumenta o valor imobiliário do terreno onde ele se
localiza, que fica no centro da capital.
Matamoros prevê ainda uma luta na Justiça sobre a permanência do
zoológico já que a administração atual do parque está nas mãos de uma
organização sem fins lucrativos, cujo contrato ainda está vigente.
Atualmente os dois zoológicos estatais da Costa Rica têm apenas duas
espécies estrangeiras: um leão e alguns pavões-reais. O restante, 400 ao
todo, são animais locais, entre os quais onças, macacos, tucanos,
guaxinins, veados e antas.
As autoridades calculam que a cada ano os dois zoológicos estatais recebem, em média, cerca de 150 mil visitantes.
Guevara, vice-ministra do Meio Ambiente, rebateu as acusações de
Matamoros e assegurou que a transferência dos animais seguirá protocolos
internacionais.
Além disso, ela disse que o contrato de administração do zoológico,
concedido nos últimos 20 anos a uma organização sem fins lucrativos, não
será renovado.
Fonte: UOL
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