A amizade é definida pelo dicionário Michaelis como um “sentimento de afeição, estima, ternura que une uma pessoa a outra sem implicar, necessariamente, a existência de laços de família ou de atração sexual”. Embora seja comum ao humano, o sentimento de amizade também ocorre no mundo animal. No artigo “As Origens Evolucionárias da Amizade”, publicado pela revista científica “Annual Review of Psychology”, uma das mais importantes da área, o professor norte-americano Robert M. Seyfarth, do departamento de Psicologia e Biologia da Universidade de Pensilvânia, relata que os estudos sobre as relações sociais em animais começaram já na década de 1960.
O pesquisador explica que, embora a amizade seja
vista em diferentes espécies, é mais comum em mamíferos de longa
vida, como primatas, golfinhos e elefantes. “Os vínculos se adaptam de
acordo com os indivíduos envolvidos. Entre os machos, aumentam o sucesso
reprodutivo; entre as fêmeas, reduzem o estresse, aumentam a sobrevivência dos
filhotes e a longevidade”, diz o estudo em suas conclusões.
Para a primatóloga Cecilia Kierulff, membro da Rede de Especialistas em
Conservação da Natureza (RECN), não são raras as ocorrências de amizade no
reino animal, sobretudo entre os primatas. “A ‘amizade’ é uma forma de
cooperação que traz alguma vantagem para os ‘amigos’. Às vezes, só o prazer da
companhia já é um ganho. O mesmo acontece com o ser humano. As pessoas e seus
amigos têm interesses comuns e se sentem bem dividindo o tempo, conversando
etc”, diz a cientista.
A seguir, cinco animais que a ciência já demonstrou que conseguem
desenvolver diferentes formas de amizade.
Cachorro
Não é à toa que os cachorros são chamados de melhores amigos dos seres
humanos. Ainda que cada raça tenha um comportamento próprio, trata-se de um
animal com grande capacidade de criar relações afetuosas entre eles e com
outras espécies. Em 2016, cientistas da Universidade de Michigan concluíram que
cães de estimação apresentam complexidade considerável em suas interações
sociais com outros cachorros: enquanto uns se ignoram completamente, outros
formam fortes e mútuas amizades.
Elefantes
Além de uma memória poderosa, que os fazem nunca esquecerem um amigo, os
elefantes têm a capacidade de reconhecer quando outro de sua espécie está
angustiado ou desconfortável, oferecendo contato físico como forma de consolo.
Um estudo publicado em 2014 observou durante um ano elefantes-asiáticos em
situações de estresse no Parque Natural dos Elefantes, na Tailândia. Os
cientistas perceberam que sempre que um indivíduo passava por algum momento
tenso (como ter uma cobra por perto), outro o confortava, com leves carícias na
boca e na cabeça.
Flamingos
Flamingos formam amizades por longos períodos. Foi esta a conclusão de
um estudo de cinco anos liderado pelo zoologista Paul Rose, da Universidade de
Exeter, na Inglaterra. Após estudar quatro espécies de flamingos, o cientista
observou diferentes formas de laços sociais, incluindo casamentos para a vida
toda, amizades entre indivíduos do mesmo sexo e até mesmo grupos de três ou
quatro grandes amigos.
Golfinhos
Sabe o que os seres humanos e os golfinhos têm em comum? O fato de que
ambas as espécies escolhem suas amizades com base em interesses comuns. Pelo
menos é o que concluiu uma pesquisa de 2019 da Universidade de Bristol, na
Inglaterra, que usou dados genéticos, comportamentais e fotográficos de 124
indivíduos de golfinhos-nariz-de-garrafa, uma espécie que comumente usa
esponjas-do-mar para coletar alimento. Após nove anos de observação, o estudo
identificou que golfinhos que usam a esponja como ferramenta para obter comida
interagem consideravelmente mais com outros que também as utilizam do que com
aqueles indivíduos que caçam sem o auxílio dos poríferos.
Primatas
Babuínos, chimpanzés e todo tipo de primata têm uma longa documentação
científica que descreve as relações sociais entre eles. Um dos estudos
mais famosos sobre amizade entre animais foi conduzido ao longo de 30 anos no
Parque Nacional de Amboseli, no Quênia, com babuínos. Assim como acontece com
as pessoas, a amizade entre primatas depende de vários aspectos: sexo, idade,
parentesco e temperamento.
De acordo com o membro da RECN e professor associado da Universidade
Federal de Goiás, Fabiano de Melo, nos muriquis-do-norte, uma espécie endêmica
do Brasil e criticamente em perigo de extinção, os abraços afiliativos são um
termômetro das amizades, especialmente entre os machos, onde os indivíduos se
abraçam com frequência. “Essa estratégia é bem interessante e substitui
eventuais disputas, como ocorre em outras espécies de macacos (como chimpanzés
e babuínos), que brigam muito e não têm esse comportamento de se abraçarem como
uma maneira de impedir disputas mais violentas”, explica o pesquisador, que é
coordenador para o Brasil do Grupo de Especialistas em Primatas da União
Internacional para a Conservação da Natureza.
Por
Kátia Cilene
Fonte e foto: Barbacena
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