(Foto: Allan Carlson/WWF)
Rafiki,
um gorila-das-montanhas de 25 anos que vivia Parque Nacional da Floresta
Impenetrável de Bwindi, em Uganda, teve sua vida ceifada por caçadores.
Ameaçado de extinção, o animal foi morto ao ter uma lança fincada em sua
barriga.
O
crime representa um retrocesso na luta pela preservação da espécie. Desde 2011,
gorilas-das-montanhas não eram mortos por caçadores.
Líder
de um bando de gorilas desde 2008, Rafiki sofreu ferimentos em seus órgãos
internos, conforme comprovou exame de autópsia. As informações são de uma
reportagem de Jack Losh, do National Geographic Brasil.
O
gorila desapareceu em 1º de junho. No dia seguinte, foi encontrado morto, com o
corpo mutilado. Um dos caçadores foi encontrado por guardas florestais em um
vilarejo próximo, munido de armadilhas, uma lança, sinos para prender nas
coleiras de cães explorados para caçar animais, além de carne de caça. Ao ser
questionado, ele confessou o crime e disse que matou o gorila para se defender
enquanto caçava antílopes com outros três homens. Eles podem ser condenados à
prisão perpétua ou multa de US$ 5,4 milhões caso sejam considerados culpados
pela Justiça.
Diretora do Programa Internacional de Conservação de Gorilas,
Anna Behm Masozera afirmou ao National Geographic que Rafiki e sua família
buscavam alimentos fora dos limites do parque, tornando-se “um símbolo de
convívio harmônico” com as pessoas.
“A morte de Rafiki e as circunstâncias que a envolvem são
devastadoras. Ele era o único macho maduro desse bando emblemático”, disse
Masozera.
E a situação pode ficar pior por conta da pandemia de
coronavírus. Com os parques nacionais fechados, perdeu-se a principal renda
voltada à preservação dos gorilas, que era obtida por meio do ecoturismo. Além
disso, conservacionistas e oficiais do governo alertam para o risco da
população caçar animais por desespero, devido à crise. “Os gerentes do parque
de toda a área de ocorrência dos gorilas-das-montanhas estão alertando para
atividades humanas acima do normal, muitas delas ilegais”, reforçou Masozera.
E a presença de caçadores nos parques é prejudicial aos animais
não só pelos risco de serem mortos, mas também pela possibilidade de uma pessoa
contaminada pelo coronavírus ter contato com os macacos, que podem contrair a
doença respiratória por conta da semelhança genética com os humanos.
Apesar desse cenário alarmante, há esperança para a espécie.
Atualmente existem mais de mil gorilas-das-montanhas, divididos em duas
populações principais em Bwindi e em uma rede de parques na área de vulcões
extintos de Virunga. O número é prova da capacidade de recuperação da espécie,
que foi dizimada na década de 1980, após décadas de caça e guerra civil,
chegando a cerca de 350 animais. Em 2018, o status da espécie, antes
considerada criticamente ameaçada, passou para ameaçada, conforme atualização
da União Internacional para a Conservação da Natureza.
Para isso, foi necessário trabalhar em conjunto com comunidades
locais e apoiar suas iniciativas de ecoturismo, segundo Masozera. Mas a falta
de turistas, por causa da pandemia, prejudicou as pessoas que necessitam do
ecoturismo para sobreviver – como carregadores de malas, lojistas, funcionários
de hotéis, entre outros. Alguns deles podem recorrer à agricultura de
subsistência, mas também há insegurança quanto a isso, já que a estação seca
reduzirá a produção agrícola.
No que se refere à morte de Rafiki, conservacionistas temem que
a perda do líder do bando fragmente a família dele, conhecida como Nkuringo.
“Os dorsos prateados, como Rafiki, desempenham um papel muito importante na
estabilidade e coesão do bando, de modo que essa perda surtirá um grande
impacto sobre o bando”, afirmou Cath Lawson, primatologista e gerente regional
especializada na África Oriental da organização não governamental WWF do Reino Unido.
“Sua morte é trágica”, completou.
Além disso, existe a possibilidade de outro gorila de dorso
prateado assumir a liderança, mas não ser habituado às pessoas, o que poderia
afastar os turistas, reduzindo a arrecadação de recursos voltados à conservação
da espécie e prejudicando a economia da região, o que poderia abrir ainda mais
espaço para novas atividades ilegais de caça.
Em outras situações vivenciadas no passado, famílias se
dispersaram após a morte dos líderes de dorso preteado. Com isso, filhotes
podem acabar sendo mortos por outros líderes de dorso preteado nos novos
bandos.
Todas as dificuldades, no entanto, não desanimam os
conservacionistas, que seguem dispostos a lutar pela preservação desses
animais. “É uma perda. Mas o convívio pacífico é uma empreitada incessante
que não é alcançada da noite para o dia”, concluiu Masozera.
Fonte: anda.jor.br
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