O jornal CETV, da TV Verdes Mares,
prestou um desserviço à população ao veicular uma reportagem sobre a
leishmaniose, também conhecida como calazar.
Ao expor dados do número de cães e
pessoas infectadas pela doença nos municípios cearenses de Fortaleza e Itapipoca,
e também exibir a quantidade de humanos que morreram em decorrência da
leishmaniose, o jornal recomendou que tutores de cachorros contaminados os
sacrifiquem em um Centro de Controle de Zoonoses.
(Foto: Divulgação)
Durante a reportagem, foi apresentado
o caso da cadela Chiquita, que passou a receber tratamento após ser retirada da
rua por Michelle Malheiros e levada a uma clínica veterinária, onde foi
diagnosticada com a doença. Apesar de ter apresentado um caso em que um animal
está sendo tratado, o jornal preferiu optar por incentivar o procedimento de
morte induzida para cães doentes ao invés de abordar a possibilidade de
tratamento.
Os cachorros não são os vilões da
leishmaniose, que, conforme explicou ao CETV o médico veterinário Dárcio
Teixeira, é transmitida por um inseto. “A contaminação ocorre através de um
mosquito, que pica o animal e consequentemente pica o humano. Esse mosquito
gosta de águas paradas sujas. Então geralmente está associado a pessoas que não
têm esgoto tratado”, explicou o veterinário. Os sintomas da doença em cães são: perda
de cor nos pelos, descamação da pele e lesões nas orelhas, na cauda e no
focinho.
Mesmo com a explicação do veterinário
acerca do mosquito, o CETV insistiu em colocar nos cães a responsabilidade pela
doença e incentivar o sacrifício dos animais, mesmo sabendo que cachorros não
transmitem a leishmaniose.
Depois de já ter afirmado que os
cachorros doentes deveriam ser submetidos ao procedimento de morte induzida, o
jornal induziu pela segunda vez a população a acreditar que a única saída para
a contaminação por leishmaniose em animais é o sacrifício ao novamente abordar
o tema, desta vez em relação ao município de Itapipoca que não tem um Centro de
Controle de Zoonoses, o que é um problema, segundo agentes de endemia.
“Hoje, Itapipoca não está praticando
sacrifício porque o processo de licitação de aquisição da clínica ainda não foi
concluído. E tudo nos fazemos dentro da legalidade”, afirmou o coordenador
de Controle de Endemias e Zoonoses, Francisco de Assis Pontes. O posicionamento
de Pontes, escolhido pela emissora para ser adicionado à reportagem, mais uma
vez reforça o uso do procedimento de morte induzida antes da tentativa de
tratamento.
Ao abordar a possibilidade de tratar
a doença, Pontes diz que “a parte de tratamento é uma coisa nova, que nós ainda
não tivemos a oportunidade de conhecer, apenas informamos que o tutor tem esse
direito de procurar a clínica para tratar se é assim que ele resolve”.
A Prefeitura de Itapipoca informou
que agentes visitam cerca de 10 casas por dia para que testes rápidos que
identifiquem a doença em cachorros sejam realizados. A administração municipal
informou ainda que estuda a possibilidade de construir um Centro de Controle de
Zoonoses com recursos do Ministério da Saúde e em parceria com outros
municípios da região.
Medicamento contra a leishmaniose
Em fevereiro de 2017 o medicamento
Milteforan, utilizado no tratamento de cães contaminados pela leishmaniose, foi lançado no
Brasil.
O grupo de pesquisas da Brasilleish,
liderado pelos médicos veterinários Fábio dos Santos Nogueira e Ingrid Menz,
com o apoio do laboratório Virbac, conseguiu a aprovação dos ministérios da
Saúde e da Agricultura para a comercialização do Milteforan. O medicamento foi
testado no Hospital Veterinário Mundo Animal, em Andradina (SP), com resultados
eficazes.
O assassinato de animais sempre foi
contestado por especialistas que garantem que a matança de cães nunca contribuiu
para diminuir o índice de contágio da leishmaniose. E afirmam que, dos 88
países do mundo onde a doença é endêmica, o Brasil é o único que sempre
utilizou a morte dos cães como instrumento de saúde pública.
Comissão aprova vacinação gratuita contra doença
A Comissão de Seguridade Social e
Família, da Câmara dos Deputados, aprovou proposta
que torna obrigatória a vacinação anual de animais contra a leishmaniose
em todo o país, a exemplo do que já ocorre no caso da vacina contra a raiva.
Essa vacinação será gratuita e fará parte de uma política nacional instituída a
fim de prevenir e controlar a doença.
O projeto tramita em caráter conclusivo
e ainda será analisado pelas comissões de Agricultura, Pecuária, Abastecimento
e Desenvolvimento Rural; de Finanças e Tributação; e de Constituição e Justiça
e de Cidadania.
Fonte: anda.jor.br
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