FOTOS: ANA CLARA MENDES
O tempo está mudando. O sol começa a
se esconder por entre nuvens, o mar ganha uma coloração diferente e a chuva
passa a fazer parte do cenário da cidade. É o momento de tirar os casacos do
armário, passar a usar cobertas mais quentes e andar sempre com um guarda-chuva
a tiracolo. Sinônimo de momentos quentinhos para uns, o período, que começa com
a quadra chuvosa e segue até setembro, traz preocupação para uma grande parcela
da população que irá enfrentar a época nas ruas de Maceió.
Se por um lado as noites frias e
chuvosas são motivos de preocupação para os moradores e animais em situação de
rua, por outro, a solidariedade aquece os corações e torna os dias um pouco
menos difíceis. São grupos que se reúnem para arrecadar alimentos, construir
abrigos para os animais e transformar guarda-chuvas e sombrinhas quebrados em
sacos de dormir.
Movidos pelo desejo de ajudar e
buscar promover conforto para os moradores em situação de rua, voluntários da
Associação Chama Viva resolveram transformar algo que seria destinado ao lixo
em sacos de dormir.
“O Projeto Aquecer contempla um dos
objetivos da Associação Chama Vida, que é aliviar e diminuir o sofrimento
humano. Desde 2015, nós desenvolvemos ações junto à população em situação de
rua em uma parceria com a equipe do Consultório na Rua”, explica Mônica
Galindo, presidente da Associação.
A ideia foi pegar pedaços do tecido
de guarda-chuvas e sombrinhas quebrados e utilizar para costurar os sacos. A
grande vantagem é que o material é impermeável, térmico, seca rápido e é fácil
de transportar.
A presidente da Associação explica
que o tecido dos guarda-chuvas e sombrinhas é retirado da armação, lavado para
higienização, passado e em seguida, costurado. É preciso quatro guarda-chuvas
para um saco de dormir.
Em 2017, além dos sacos de dormir, o
projeto Aquecer conseguiu levar doações de mantas, roupas, lençóis e toalhas.
“A sociedade se sensibilizou, de tal forma, que conseguimos doações de algumas
cestas básicas, calçados e kits de higiene pessoal. Para aqueles que haviam
conseguido aluguel social, ainda, pudemos arrecadar doações de utensílios
domésticos e bens, como fogão, botijão de gás”, conta Mônica.
Neste ano, o objetivo dos voluntários
é contemplar ainda mais moradores em situação de rua, com a pretensão de
atender 180 pessoas. “Nosso desejo foi dar continuidade a ação Aquecer,
contemplando a demanda dessa população com algo que diminuísse o sofrimento no
período das chuvas, buscando aliviar a dura realidade de estar nas ruas. A
perspectiva desse inverno é de grandes volumes de chuvas, como foi o inverno
passado”, destaca Mônica.
As entregas serão acompanhadas por
lanche e água atendendo assim duas das necessidades básicas de um ser humano: a
nutrição e a proteção.
A campanha está sendo divulgada nas
redes sociais. “Começamos a divulgação no WhatsApp. Foi espantosa a resposta
imediata das pessoas. Muitas me ligavam confirmando se era verdadeira ou se era
fakenews. E ao confirmarem a veracidade da informação, se dispunham a divulgar.
Então, assim, essa campanha vem tomando a cidade toda de uma forma
encantadora”, explica Mônica.
Para quem quiser colaborar, em
Maceió, os pontos de coleta são a sede da Associação, localizada no Espaço
Rotary, na Avenida Fernandes Lima, das 14h às 18h, de segunda a sexta-feira; na
loja Erva Doce, Doce Erva – unidade Ponta Verde, na Casa de Luz, no bairro do
Feitosa; na Clínica Veterinária É o Bicho, no Barro Duro; na academia Vida
Ativa, localizada na Santa Lúcia, e no Restaurante Serafim, no bairro da
Jatiúca.
Projeto Dedicar
Em dezembro de 2015, um grupo de
amigos resolveu se reunir com o objetivo de mudar a cidade. A ideia era
escolher um local fixo para levar ações educativas, alimentos e promover o
bem-estar para os moradores.
“Alguns amigos resolveram se juntar com um
novo intuito de fazer a mudança na nossa cidade. A de levar um acompanhamento
para um local fixo e fazendo ações pontuais paralelas para mudar a realidade
daquele local”, explica Gabriela Araújo, voluntária do Projeto Dedicar.
As ações acontecem todos os sábados
com famílias que vivem na Vila Emater, comunidade que surgiu no entorno do
antigo Lixão de Maceió. São atendimentos para mulheres, mães, crianças e
idosos. Além da distribuição do sopão, cestas básicas, brinquedos e roupas.
“Não recusamos nenhum tipo de ajuda, porém não somos um grupo focado nas
gestantes, nem nos homens e nem em deficientes. Era necessário ter pessoas que
sabiam nos direcionar a trabalhar com esse público, mas jamais deixaríamos de
ajudar quem precisa”, destaca Gabriela.
Para o inverno, o Projeto Dedicar
prepara a Campanha do Agasalho. Os voluntários buscam as doações de cobertores,
lençóis e agasalhos para distribuir entre os moradores da comunidade. Gabriela
explica que a redes sociais são um apoio para o projeto e têm contribuído muito
com as doações e voluntários. “As campanhas são divulgadas entre o nosso grupo
de voluntários e nas redes sociais. O Instagram e o Facebook são fundamentais
na hora da arrecadação e divulgação, ajudam muito a levar a campanha para o
maior número de pessoas”.
Além da comunidade da Vila Emater, o
projeto realiza visitas em asilos, orfanatos e lares infantis. “Uma vez por mês
ou a cada dois meses, vamos vender doces na rua fechada da praia para conseguir
recursos para o projeto. Também fazemos imersão em outros grupos sociais,
levamos alguns voluntários que querem conhecer outros grupos e fazemos ações em
conjunto”, conta Gabriela.
Os voluntários, segundo Gabriela, são pessoas que querem ajudar e fazer a diferença. “Temos integrantes de todas as idades e diferentes classes sociais. A maioria são estudantes e que trabalham, mas já temos pessoas formadas, casadas, com família”.
Os voluntários, segundo Gabriela, são pessoas que querem ajudar e fazer a diferença. “Temos integrantes de todas as idades e diferentes classes sociais. A maioria são estudantes e que trabalham, mas já temos pessoas formadas, casadas, com família”.
Para quem quiser doar agasalhos ou
conhecer um pouco mais do projeto, basta buscar nas redes sociais
@projetodedicar ou entrar em contato pelos números 9 9947-0077 / 9 9679-2588.
Abrigo para os amigos de quatro patas
Uma cena comum para quem percorre as
ruas de Maceió é encontrar cachorros e gatos abandonados. Com o período das
chuvas e do frio, esses animais sofrem ainda mais. “Andando nas ruas a gente vê
a grande quantidade de animais abandonados. E nesse período de inverno, se eles
já estão desassistidos, eles ficam completamente desabrigados. Então sofrem com
fome, sofrem maus tratos, sofrem com frio”, diz Fábio Palmeira.
Sensibilizado com a causa, Fábio
decidiu reproduzir em Maceió o projeto “Adote um Abrigo Sustentável”. A ideia é
espalhar um kit, com casinhas sustentáveis, caminhas, comedouros e bebedouros
para dar abrigo aos cães e gatos que vivem nas ruas. “O projeto já existe em
outras cidades. Busquei dois parceiros, a Artts Pneuus e a Serraria Falcão para
implantar a ideia”, destaca.
De acordo com Fábio, a situação dos
animais de rua sensibiliza muitas pessoas. No entanto, nem todo mundo tem
condições de adotar os animais e oferecer um novo lar. Além disso, os abrigos
já vivem lotados e precisando de apoio. “O objetivo é atender a demanda dos animais
que já recebem algum tipo de cuidado. São aqueles que vivem naquela rua e que
os moradores colocam água e comida. Nosso intuito é levar o abrigo para esse
lugar e ele ficará sob a responsabilidade dos moradores ou empresários da
região”, explica Fábio.
A proposta inicial, segundo Fábio,
era distribuir dois kits a cada três meses. Mas a demanda superou a expectativa
e os parceiros já estudam uma alternativa para fazer entregas mensais.
“Lancei o regulamento para adotar o
abrigo nas redes sociais e a repercussão foi gigante. Foi surpreendente, não
sabia que iria gerar uma demanda tão grande. E, nesse momento, você começa a
perceber a ausência total de políticas públicas nessa área do bem-estar
animal”, disse Fábio.
Casinhas sustentáveis
Fábio está com mais de 30 lugares
para visitar e escolher os destinos para os dois primeiros kits. As casinhas
são sustentáveis, feitas com restos de madeiras e telhas. As camas são feitas
com pneus que iriam para o lixo. Os comedouros e bebedouros são pratinhos
velhos que foram transformados.
“Para a instalação, o morador ou empresário
interessado deve solicitar a visita no Instagram @ fabiolpalmeira. Nós iremos
ao local avaliar a necessidade, saber as condições do animal e se os moradores
atendem as exigências e, após a avaliação, entregaremos o kit”, explica Fábio.
Segundo ele, desde que a ideia foi
lançada, são milhares de pedidos solicitando abrigos para cães e gatos. Ele
conta que são pessoas que dedicam parte do seu tempo para cuidar dos animais
que estão na rua, mas que não têm condições de colocar os animais dentro de
casa. “Eles têm aquele animal que frequenta diariamente aquele lugar. E eles
colocam comida, água, dão atenção. E esse animal acaba adquirindo o hábito de
dormir ali, ficar por ali”.
Sendo escolhido o lugar, o kit ficará
sob responsabilidade do morador ou empresário que se interessar em colaborar
com o projeto. “O abrigo ficará sobre a responsabilidade deles, com apoio da
vizinhança. O maior desafio é fazer com que as pessoas que estão passando pelo
lugar respeitem o abrigo. Não quebrem, não vandalizem e nem furtem nada. Quem
adotar vai ter que ser um eterno vigilante. Ter a responsabilidade e preservar
o abrigo e cuidar do animal”.
Fábio acredita que o projeto irá
sensibilizar a população, expandindo para outros lugares e ainda mais ações
para garantir o bem-estar animal. “Nossa proposta é estender o projeto para que
a gente não fique apenas como abrigo. Hoje, há uma demanda muito maior, que é a
castração. Quem sabe a gente não consegue parceiros para fazer o procedimento”,
comenta Fábio.
Por Livia Leão
Fonte: Gazetaweb
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