Foto: Denis Maciel/DGABC
Na terça-feira, a extinção da
carrocinha – serviço municipal que capturava animais nas ruas e os levava para
serem sacrificados – completa dez anos, quando em 17 de abril de 2008 passou a
vigorar a lei estadual número 12.916. A questão colocou
fim à morte de animais saudáveis, no entanto, com a falta de estrutura nos CCZs
(Centros de Controle de Zoonoses), mantidos pelas prefeituras e a dificuldade
de ONGs (Organizações Não Governamentais) em ajudar a demanda, cães e gatos se
proliferam pelas ruas, tendo em vista a ausência de ações efetivas de castração
e de rigor nas leis de posse responsável.
“(O fim da carrocinha) Tem o lado
bom, porque mostra um pouco do respeito que criou-se com os animais, porém,
eles não são mais resgatados, porque as prefeituras alegam que não têm espaço e
material humano para que se faça o tratamento e não têm a quem recorrer para o
resgate, senão as próprias protetoras, que também não têm muitos recursos”,
fala a idealizadora do projeto Amigo Legal Protetoras Independentes, Solange
Porto, 56 anos, de Santo André.
Os CCZs fazem a recolha somente de
animais doentes ou agressivos que estejam pelas ruas. No município andreense,
foram recolhidos 112 bichos em 2017. Todo último domingo do mês é realizada
feira de adoção, no Parque Central. Com relação às castrações ofertadas, a
partir de 2017, o investimento para a ação passou de R$ 240 mil para R$ 360 mil
por ano. Com isso, a capacidade passou de 200 para 300 animais castrados
mensalmente.
Em São Bernardo, a administração
informou que o CCZ disponibiliza gatil com solário, 15 espaços individuais, dez
canis coletivos, quatro baias e um piquete. No entanto, não retornou sobre o
número de animais acolhidos.
Em São Caetano, a quantidade de
recolhimento apresentou diminuição na comparação entre 2007 (530) com o ano
passado (50).” A cidade tem empenhado cerca de R$ 27 mil para o programa de
castração, que é permanente e atende famílias carentes do município. Em 2016,
foram realizadas 293 procedimentos. No ano passado, 31.
Em Ribeirão Pires, 253 animais deram
entrada no CCZ, em 2017. Atualmente há 50 cães no local, capacidade limite. A
administração destaca que realizou 500 cadastros para castração no fim de 2017
e que há previsão de abertura de novas vagas neste ano.
Para a diretora-geral da Ajudanimal,
Maria Cecilia Bentini, 58, de Ribeirão Pires, conjunto de fatores deve ser
executado para minimizar o problema do abandono de animais. “A castração tem
que andar em paralelo com a conscientização. Faltam campanhas que massifiquem
isso e penalização para quem abandona.”
As demais cidades não se pronunciaram
até o fechamento desta edição.
Carrocinha traz más recordações
É com tristeza que as pessoas que
presenciaram a atuação da carrocinha se lembram daquela época. “Quando
avistavam um cachorro, laçavam e o coitadinho gritava muito. Aí, jogavam para
dentro do furgão”, lembra a ajudante geral Erica Trefs Gnan, 57 anos, de São
Bernardo.
Quando era criança, ela recorda que a
carrocinha pegou seu cão de estimação, que havia saído para a rua. “Davam três
dias para buscar e fui com minha mãe. Vi que eles davam uma injeção para matar
quando ninguém dava falta”, conta.
O marceneiro Ricardo Ferreira, 45,
também de São Bernardo, viu muitas vezes a captura de animais para o
sacrifício, mas, em sua opinião, a ação era “um mal necessário, pois não havia
tantas pessoas e entidades como hoje que cuidam dos animais”.
A professora Elza Ferencile, 57, de
Mauá, achava “abominável” o modo como os bichos eram pegos. “Lembro uma vez que
o homem puxava o laço no pescoço do cachorro com tanta força que sangrava pela
boca”, relata. Hoje, para conter a população animal, ela acredita ser
necessário reforçar o trabalho de conscientização, mas, por outro lado, acha
que a questão é difícil de ser resolvida. “Deveria haver uma orientação
consciente dos donos, mas acho isso impossível. As pessoas descartam (os
animais) como lixo.”
Por Vanessa de Oliveira
Fonte: Diário do Grande ABC
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